Acesso livre
Acesso livre

Destaques

Anticoagulação em Pacientes Hospitalizados com COVID-19: Dose Terapêutica Reduz Mortalidade em 28 Dias

6 Jan, 2025 | 12:00h

Este amplo estudo multicêntrico avaliou a eficácia e a segurança de doses mais elevadas de anticoagulantes (principalmente heparinas) em comparação a doses mais baixas em pacientes hospitalizados por COVID-19. A motivação inicial veio da observação de altas taxas de trombose nessa população, associadas a quadros inflamatórios intensos. Assim, o objetivo principal foi comparar o efeito de diferentes doses de anticoagulantes (terapêutica, intermediária ou profilática) na mortalidade em 28 dias.

No total, foram incluídos 22 ensaios clínicos randomizados (principalmente com heparinas de baixo peso molecular ou heparina não fracionada), abrangendo mais de 11 mil pacientes. A maior parte comparou dose terapêutica versus dose profilática, enquanto alguns estudos adicionaram o braço intermediário. A avaliação metodológica foi feita com base no protocolo pré-registrado, e os resultados foram analisados de forma prospectiva, com dados detalhados fornecidos pelos próprios pesquisadores.

Os resultados indicaram que a anticoagulação em dose terapêutica, comparada à dose profilática, reduziu a mortalidade em 28 dias (OR 0.77; IC 95%, 0.64-0.93) em pacientes que, em sua maioria, recebiam pouco ou nenhum suporte de oxigênio no momento da randomização. Na comparação entre doses terapêuticas e intermediárias, observou-se um aumento não estatisticamente significativo na mortalidade no grupo da dose terapêutica (OR 1.21; IC 95% 0.93-1.58). Já a dose intermediária, quando comparada à profilática, não apresentou diferença significativa na mortalidade (OR 0.95; IC 95% 0.76-1.19). Em todas as comparações, observou-se que a dose mais elevada reduzia eventos tromboembólicos (por exemplo, OR 0.48 na comparação entre dose terapêutica e profilática), porém aumentava o risco de sangramentos maiores (OR 1.90 na mesma comparação). A influência do nível de suporte ventilatório (nenhum/baixo fluxo vs. suporte avançado) não se mostrou robusta para alterar substancialmente os achados, embora algumas análises tenham sido limitadas pelo número de pacientes em cada subgrupo.

Do ponto de vista clínico, a conclusão geral sugere possível benefício da anticoagulação em dose terapêutica para pacientes hospitalizados com COVID-19 que não estejam em ventilação mecânica invasiva ou em estados mais críticos de suporte respiratório. Contudo, a decisão deve ser ponderada pelo maior risco de sangramento. Segundo comentário editorial publicado na mesma revista (DOI: https://doi.org/10.7326/ANNALS-24-03244), ainda existem incertezas sobre a real aplicabilidade desses achados nos estágios mais atuais da pandemia, devido a mudanças nas variantes do vírus e ao surgimento de novas formas de tratamento.

Implicações para a Prática

Os resultados apoiam a adoção mais criteriosa de doses terapêuticas em pacientes não críticos, atentando ao risco de sangramento e ao perfil de gravidade. Para casos que envolvem ventilação mecânica invasiva ou estado crítico, não houve evidência robusta de benefício com doses terapêuticas em relação às intermediárias ou profiláticas.

Pontos Fortes e Limitações

Entre os pontos fortes, destacam-se a análise prospectiva e a inclusão de diversos ensaios, cobrindo diferentes cenários de COVID-19. Como limitação, as comparações envolveram populações com graus distintos de gravidade e, embora tenha havido uma padronização razoável, houve alguma variação nas doses utilizadas nos grupos controle. Além disso, a evolução da pandemia e o surgimento de novas variantes podem reduzir a validade externa para o momento atual.

Pesquisas Futuras

Investigações adicionais são necessárias para delimitar com mais precisão quais subgrupos (por exemplo, níveis de D-dímero, comorbidades ou perfis inflamatórios) podem se beneficiar mais da dose terapêutica, e qual o melhor momento de iniciar ou descontinuar o tratamento.

Referência: The WHO Rapid Evidence Appraisal for COVID-19 Therapies (REACT) Working Group. Anticoagulation Among Patients Hospitalized for COVID-19: A Systematic Review and Prospective Meta-analysis. Annals of Internal Medicine. DOI: https://doi.org/10.7326/ANNALS-24-00800

Editorial: Shappell CN, Anesi GL. Anticoagulation for COVID-19: Seeking Clarity and Finding Yet More Gray. Annals of Internal Medicine. DOI: https://doi.org/10.7326/ANNALS-24-03244


Suporte Nutricional em Pacientes em UTI: Perspectivas Atuais e Recomendações

6 Jan, 2025 | 11:00h

Introdução: Este texto resume um artigo de revisão sobre suporte nutricional em pacientes críticos, publicado no BMJ em 2025. A revisão discute a importância de individualizar a nutrição durante a internação em UTI, considerando a fase aguda e a fase de recuperação do paciente. O estado crítico leva a catabolismo acentuado, perda muscular e fraqueza persistente, ressaltando a relevância de estratégias nutricionais bem definidas. Entretanto, pesquisas recentes questionam a prática tradicional de fornecer altos níveis de calorias e proteínas precocemente. Também se enfatiza que, embora a nutrição seja essencial, somente a terapia nutricional pode não ser suficiente para reverter completamente a perda muscular e promover recuperação funcional.

Principais Recomendações:

  1. Abordagem Individualizada: Avaliar riscos nutricionais e fases da doença para definir a quantidade de calorias e proteínas. Evidências recentes sugerem benefícios de restrição moderada de calorias e proteínas na fase aguda do choque ou falência de múltiplos órgãos.
  2. Rotas de Alimentação: Dar preferência à nutrição enteral em pacientes sem contraindicações gastrointestinais claras. A nutrição parenteral pode ser usada quando o trato gastrointestinal não estiver funcional ou houver necessidade prolongada de suporte.
  3. Dose de Macronutrientes: Evitar superalimentação na primeira semana de doença crítica, especialmente quando há instabilidade hemodinâmica ou evidências de hipercatabolismo. Estudos grandes e recentes não mostraram vantagem de atingir metas altas de calorias ou proteínas muito cedo.
  4. Micronutrientes e “Farmaconutrientes”: Suplementações específicas (por exemplo, glutamina, antioxidantes, vitaminas e oligoelementos) não demonstraram benefícios claros em estudos robustos. A reposição deve seguir as recomendações diárias usuais, levando em conta perdas adicionais (por exemplo, diálise contínua).
  5. Monitoramento e Ajuste: Ferramentas de triagem como NUTRIC ou NRS-2002 podem ajudar na avaliação de risco, mas ainda faltam biomarcadores confiáveis para guiar decisões durante cada fase da doença. A supervisão de uma equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas) otimiza a implementação e continuidade do plano nutricional.
  6. Reabilitação Focada: Combinar a nutrição com fisioterapia e outras abordagens de reabilitação, estendendo-se após a alta da UTI, pode melhorar a qualidade de vida, a função física e o retorno às atividades habituais no longo prazo.

Conclusão: O suporte nutricional é fundamental no tratamento do paciente criticamente enfermo, mas sua implementação deve ser dinâmica, ajustada ao momento clínico. Evidências atuais indicam que uma oferta mais cautelosa de calorias e proteínas nos primeiros dias, seguida de progressão gradual conforme o paciente se estabiliza, pode reduzir complicações e acelerar a recuperação. Pesquisas futuras devem enfocar marcadores de catabolismo e anabolismo, estratégias personalizadas de alimentação e a integração entre nutrição e reabilitação para melhorar a evolução funcional e a qualidade de vida.

Referência: Reignier J, Rice TW, Arabi YM, Casaer M. Nutritional Support in the ICU. BMJ. 2025;388:e077979. Disponível em: https://doi.org/10.1136/bmj-2023-077979

 


Infecções por Influenza Aviária A(H5N1) em Humanos: Doença Predominantemente Leve em Trabalhadores Expostos a Animais Infectados

2 Jan, 2025 | 13:53h

Este estudo descreve os casos de infecção por influenza aviária A(H5N1) em adultos nos Estados Unidos, entre março e outubro de 2024, em um cenário de surtos em aves e em vacas leiteiras. A investigação foi iniciada após a observação de sinais clínicos sugestivos de infecção em profissionais que atuavam na depopulação de aves infectadas ou na ordenha e manejo de vacas com mastite por A(H5N1).

O objetivo principal foi avaliar as características clínicas, o histórico de exposição e a evolução dos casos humanos, bem como entender as possíveis vias de transmissão e a gravidade do quadro em uma população ocupacionalmente exposta.

Os métodos incluíram monitoramento de trabalhadores potencialmente expostos ao vírus, coleta de amostras respiratórias e conjuntivais de pessoas sintomáticas, além de testes laboratoriais de RT-PCR para subtipagem do vírus influenza A(H5). Entrevistas padronizadas investigaram fatores de risco e adoção de equipamentos de proteção individual (EPI).

Os resultados mostraram 46 casos confirmados em seis estados, dos quais 45 apresentavam vínculo ocupacional com animais infectados ou possivelmente infectados (20 com aves, 25 com vacas). Destes, 93% tiveram conjuntivite, cerca de 49% apresentaram febre e 36% sintomas respiratórios. Quinze pacientes (33%) tiveram apenas conjuntivite. Não houve mortes e apenas um caso sem exposição conhecida foi hospitalizado, embora por sintomas não respiratórios. A maioria dos casos recebeu tratamento com oseltamivir, iniciado em média até dois dias após o início dos sintomas. Não foi detectada transmissão sustentada de pessoa para pessoa. Entretanto, o uso de EPI foi considerado subótimo, principalmente entre profissionais de laticínios.

As conclusões indicam que, até o momento, o vírus A(H5N1) em humanos se manifestou de forma predominantemente leve nos Estados Unidos, com duração curta de sintomas e forte associação à exposição ocupacional direta. A ausência de transmissão sustentada sugere risco baixo para a população em geral, mas reforça a necessidade de vigilância ativa e aprimoramento de medidas de proteção individual.

Como implicações para a prática, recomenda-se o fortalecimento das orientações sobre uso adequado de EPI — especialmente na proteção ocular e respiratória —, a manutenção de monitoramento intensivo e a prescrição de antivirais precocemente para trabalhadores com exposição confirmada e sintomas sugestivos.

Entre os pontos fortes do estudo estão a ampla vigilância em diversos estados e a incorporação de swabs conjuntivais como ferramenta de diagnóstico. Como limitações, destaca-se a possibilidade de subnotificação de casos leves ou assintomáticos e lacunas em dados mais detalhados de exposição ocupacional.

Pesquisas futuras devem aprofundar o papel de diferentes vias de transmissão, especialmente contato com leite não pasteurizado, bem como avaliar potenciais mutações do vírus que possam influenciar a gravidade e a transmissibilidade entre humanos.

Referência
Garg S, Reinhart K, Couture A, Kniss K, Davis CT, Kirby MK, Murray EL, et al. Highly Pathogenic Avian Influenza A(H5N1) Virus Infections in Humans. New England Journal of Medicine. Publicado em 31 de dezembro de 2024. Link: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2414610

Editorial relacionado
Ison MG, Marrazzo J. The Emerging Threat of H5N1 to Human Health. New England Journal of Medicine. Publicado em 31 de dezembro de 2024. Link: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMe2416323

 


Meta-análise: Inibidores de fosfodiesterase de meia-vida longa podem reduzir os níveis de HbA1c em pacientes com diabetes

1 Jan, 2025 | 16:45h

Os inibidores de fosfodiesterase 5 (PDE5) são amplamente conhecidos pelo seu uso no tratamento de disfunção erétil e hipertensão pulmonar, mas vêm ganhando atenção como potencial terapia combinada para indivíduos com diabetes tipo 2. O estudo em questão avaliou se existe diferença no impacto sobre o controle glicêmico (medido pelo HbA1c) entre inibidores de PDE5 de meia-vida longa (como tadalafil e PF-00489791) e de meia-vida curta (como sildenafil e avanafil).

A pesquisa surge em um cenário de crescente prevalência de diabetes no mundo, em que a busca por novas estratégias terapêuticas — inclusive reuso de medicamentos já aprovados — tem sido uma prioridade para aprimorar o controle metabólico. Nesse contexto, o objetivo central foi comparar o efeito dessas diferentes medicações sobre o HbA1c, que reflete a glicemia média dos últimos três meses e se correlaciona a complicações microvasculares e cardiovasculares.

Para isso, os autores realizaram uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados que envolveram pacientes com HbA1c ≥ 6%. Foram incluídos somente estudos com duração mínima de quatro semanas de intervenção contínua com inibidores de PDE5, comparados a um grupo controle ou placebo. No total, 13 estudos preencheram esses critérios, avaliando tanto inibidores de meia-vida curta quanto de meia-vida longa.

Nos resultados, identificou-se que, de modo geral, os inibidores de PDE5 de meia-vida longa se associaram a reduções estatisticamente significativas nos níveis de HbA1c em comparação ao controle. Em sete estudos analisados, o grupo que recebeu tadalafil ou PF-00489791 apresentou redução média de cerca de −0,40% no HbA1c, efeito comparável aos obtidos por outros antidiabéticos em populações com níveis de HbA1c já razoavelmente controlados (entre 7% e 8%). Por outro lado, os inibidores de meia-vida curta (sildenafil e avanafil) não mostraram diminuição consistente no HbA1c, havendo até um leve aumento em subanálises de estudos mais longos (≥8 semanas) realizados exclusivamente com portadores de diabetes tipo 2 e HbA1c ≥ 6,5%.

Como conclusão, esses achados indicam que, na prática clínica, PDE5 de meia-vida longa parecem oferecer vantagem adicional para o controle glicêmico em comparação aos de meia-vida curta, possivelmente pela maior estabilidade farmacológica e adesão do paciente. Embora os resultados gerais sejam promissores, é preciso cautela na interpretação, visto que muitos estudos incluídos envolveram indivíduos com HbA1c próximo a 7%, e alguns apresentaram alta heterogeneidade. Ainda assim, o potencial de redução do HbA1c se mostra relevante, especialmente em grupos com diabetes menos controlado (por exemplo, HbA1c próximo a 10%).

Em termos de implicações clínicas, o uso de inibidores de PDE5 de meia-vida longa pode se tornar uma opção complementar para pacientes com diabetes tipo 2, contribuindo para o alcance de metas glicêmicas. Entretanto, recomenda-se prudência ao incorporar rotineiramente essas medicações, uma vez que não há estudos robustos com grandes amostras em populações altamente descompensadas.

Entre os pontos fortes do estudo estão a comparação direta entre dois tipos de inibidores de PDE5, a inclusão de diversos estudos controlados e a análise de subgrupos. Por outro lado, limitações incluem a heterogeneidade metodológica, o pequeno número de estudos com acompanhamento prolongado e o fato de alguns ensaios terem sido realizados em populações já com boa resposta glicêmica.

Pesquisas futuras devem ampliar a amostra de pacientes com níveis iniciais de HbA1c mais elevados, além de investigar de forma aprofundada os mecanismos farmacocinéticos que diferenciam os efeitos de meia-vida longa e curta na estabilidade glicêmica. Seria útil, também, avaliar desfechos clínicos de maior relevância (por exemplo, prevenção de complicações cardiovasculares e renais) para consolidar a utilidade desses agentes como parte de uma estratégia de manejo da diabetes.

Referência
Kim J, Zhao R, Kleinberg LR, Kim K. Effect of long and short half-life PDE5 inhibitors on HbA1c levels: a systematic review and meta-analysis. eClinicalMedicine. 2025;80:103035. DOI: http://doi.org/10.1016/j.eclinm.2024.103035

 


Atualização da Prática Clínica da AGA para Manejo de Trombose de Veia Porta em Pacientes com Cirrose: Revisão de Especialistas

3 Jan, 2025 | 10:00h

Introdução: Este resumo aborda as principais recomendações de um documento de revisão especializado da American Gastroenterological Association (AGA) sobre trombose de veia porta (TVP) em pacientes com cirrose. A trombose de veia porta é frequente nesses indivíduos e pode contribuir para agravamento da hipertensão portal e maior risco de mortalidade. A diretriz visa orientar a avaliação, o diagnóstico e o tratamento da TVP não maligna em cirróticos, incluindo o uso de anticoagulantes orais diretos e intervenções endovasculares.

Principais Recomendações:

  1. Screening de rotina: Pacientes assintomáticos e com cirrose compensada não requerem rastreamento frequente de TVP.
  2. Confirmação por imagem: Quando uma TVP é identificada por ultrassom Doppler, recomenda-se tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) contrastada para confirmar o diagnóstico, avaliar malignidade e caracterizar extensão, oclusão e cronicidade do trombo.
  3. Investigação de hipercoagulabilidade: Em cirróticos com TVP, a pesquisa de estados hipercoaguláveis não é necessária na ausência de história pessoal ou familiar de tromboembolismo ou outras alterações laboratoriais sugestivas de trombofilia.
  4. Isquemia intestinal: Pacientes com TVP e sinais de isquemia intestinal devem receber anticoagulação imediata e, quando possível, acompanhamento multidisciplinar (gastroenterologia, hepatologia, radiologia intervencionista, hematologia e cirurgia).
  5. Conduta em tromboses recentes e pouco extensas: Em pacientes sem isquemia intestinal, com TVP recente (<6 meses) e obstrução <50%, pode-se optar pela observação com reavaliação por imagem a cada 3 meses para verificar regressão espontânea.
  6. Quando considerar anticoagulação: Em tromboses recentes (<6 meses) com obstrução significativa (>50%) ou envolvendo a veia porta principal ou vasos mesentéricos, recomenda-se iniciar anticoagulação. Também é relevante em candidatos a transplante hepático ou na presença de trombofilias hereditárias.
  7. Trombose crônica com cavernomas: Se a TVP for crônica (>6 meses), com oclusão total e formação de colaterais (transformação cavernosa), a anticoagulação geralmente não é indicada, pois a chance de recanalização é baixa.
  8. Triagem de varizes: Recomenda-se rastrear varizes esofágicas (ou outras varizes do trato digestivo) e considerar profilaxia com betabloqueadores não seletivos, mas sem retardar o início da anticoagulação em casos necessários.
  9. Escolha do anticoagulante: Antagonistas de vitamina K (AVK), heparina de baixo peso molecular (HBPM) e anticoagulantes orais diretos (DOACs) podem ser utilizados conforme o perfil clínico e de acordo com a classe Child-Turcotte-Pugh (CTP). DOACs têm posologia mais simples, mas devem ser usados com cautela em CTP B e evitados em CTP C.
  10. Duração da anticoagulação: Recomenda-se avaliar resposta à terapia por TC ou RM a cada 3 meses. Se houver regressão, manter a anticoagulação até o transplante ou até resolução do trombo em pacientes que não serão transplantados. Se não houver resposta após 6 meses, a continuidade do tratamento pode ser reavaliada.
  11. Intervenção endovascular: A revascularização portal via TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunt) pode ser considerada em pacientes com cirrose e TVP que já apresentem indicação para TIPS (por exemplo, ascite refratária ou sangramento varicoso), bem como em candidatos a transplante nos quais a recanalização facilite a viabilidade cirúrgica.

Conclusão: O manejo da TVP em pacientes cirróticos requer análise individualizada, levando em conta a extensão do trombo, o risco de sangramento, a presença de isquemia e a possibilidade de transplante hepático. Essas recomendações auxiliam na tomada de decisão clínica e enfatizam a importância de identificar precocemente trombos extensos, considerando-se o uso criterioso de anticoagulação e eventuais procedimentos intervencionistas.

Referência:
Davis JPE, Lim JK, Francis FF, Ahn J. AGA Clinical Practice Update on Management of Portal Vein Thrombosis in Patients With Cirrhosis: Expert Review. Gastroenterology. 2024. doi: http://doi.org/10.1053/j.gastro.2024.10.038

 


Estudo Randomizado: Clortalidona vs Hidroclorotiazida e Resultados Renais em Pacientes com Hipertensão

3 Jan, 2025 | 09:00h

Este estudo, parte do Diuretic Comparison Project (DCP), investigou se a chlortalidona seria superior à hidroclorotiazida na prevenção de desfechos renais em pacientes de 65 anos ou mais com hipertensão. A comparação entre essas duas medicações é relevante pois ambas são frequentemente prescritas em situações de hipertensão, principalmente quando há preocupação com risco de complicações renais.

O objetivo central foi analisar se a chlortalidona reduziria a progressão da doença renal crônica (DRC), definida como duplicação do nível de creatinina sérica, taxa de filtração glomerular estimada (eGFR) menor que 15 mL/min ou necessidade de diálise, em comparação com a hidroclorotiazida. O estudo, de caráter pragmático, recrutou veteranos atendidos em unidades do Veterans Affairs (VA) nos Estados Unidos e randomizou pacientes já em uso de hidroclorotiazida (25 ou 50 mg/dia) para continuar com a mesma medicação ou mudar para chlortalidona (12,5 ou 25 mg/dia). Assim, a dose de 12,5 a 25 mg de chlortalidona foi considerada equivalente ao uso de 25 a 50 mg de hidroclorotiazida.

Dos 13 523 participantes, 12 265 apresentavam dados laboratoriais completos e foram acompanhados em média por 3,9 anos. Os resultados mostraram que a chlortalidona não foi superior à hidroclorotiazida em termos de proteção renal, tanto para a definição primária de progressão de DRC quanto em desfechos secundários, incluindo queda de 40% na eGFR, incidência de nova DRC e hospitalizações por lesão renal aguda. Em contrapartida, a chlortalidona esteve associada a maior risco de hipocalemia, embora a diferença absoluta tenha sido relativamente pequena.

Implicações para a Prática
Do ponto de vista clínico, os achados indicam que ambas as medicações podem ser usadas com confiança para o controle da hipertensão em adultos mais velhos, sem evidência de prejuízo adicional ao rim ao se optar por chlortalidona em vez de hidroclorotiazida. Porém, é fundamental acompanhar com atenção o risco aumentado de hipocalemia no grupo da chlortalidona, possivelmente ajustando doses ou associando suplementos de potássio quando necessário. Vale ressaltar que a comparação utilizou doses farmacologicamente equivalentes: 12,5 a 25 mg/dia de chlortalidona equivale a 25 a 50 mg/dia de hidroclorotiazida. Esse detalhe reforça a necessidade de se considerar equivalências de dose ao trocar uma medicação pela outra, bem como monitorar a resposta de cada paciente.

Entre os pontos fortes do estudo, destaca-se o desenho pragmático, que reflete melhor a prática clínica real. Já como limitações, a maioria dos pacientes já fazia uso de hidroclorotiazida antes, o que pode ter influenciado a tolerabilidade relatada. Além disso, os exames laboratoriais de acompanhamento seguiram a rotina clínica habitual, e não um protocolo padronizado.

Pesquisas Futuras
Futuros trabalhos poderiam explorar o uso de chlortalidona em pacientes com DRC mais avançada, bem como a adoção de estratégias de combinação com diuréticos poupadores de potássio. Outros subgrupos, como indivíduos com hiperaldosteronismo ou diabetes mais grave, também merecem investigação para delimitar melhor a segurança e efetividade de cada diurético.

Referência
Ishani A, Hau C, Raju S, et al. “Chlorthalidone vs Hydrochlorothiazide and Kidney Outcomes in Patients With Hypertension: A Secondary Analysis of a Randomized Clinical Trial.” JAMA Netw Open. 2024;7(12):e2449576. DOI: http://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2024.49576

 


Meta-Análise Bayesiana Sugere Maior Risco de Mortalidade com Altas Doses de Proteína em Pacientes Críticos

2 Jan, 2025 | 08:30h

Trata-se de uma análise que surgiu do contexto em que diretrizes de nutrição recomendam administrações proteicas elevadas (1,2 g/kg/d a 2,0 g/kg/d) para pacientes em estado crítico, com a justificativa de minimizar a perda muscular e melhorar desfechos clínicos. No entanto, pesquisas recentes questionam o real benefício dessa estratégia, motivando a condução de uma revisão sistemática e meta-análise sob a ótica bayesiana. O objetivo central foi responder se uma maior oferta de proteína, quando comparada a uma oferta menor, influencia a mortalidade, infecções, tempo de ventilação mecânica e qualidade de vida de pacientes graves internados em UTI.

Para alcançar esse objetivo, os autores incluíram ensaios clínicos randomizados que compararam doses diferentes de proteína, mantendo semelhante o aporte energético em ambos os grupos. Foram analisados 22 estudos, totalizando 4.164 pacientes. A estratégia de análise foi a aplicação de modelos bayesianos hierárquicos, escolhidos por permitirem estimar probabilidades de efeitos benéficos ou prejudiciais em diversos limiares clínicos. No geral, a dose de proteína no grupo “alto aporte” foi de cerca de 1,5 g/kg/d, enquanto a do grupo “baixo aporte” foi de 0,9 g/kg/d.

Entre os resultados, destacou-se a probabilidade de 56,4% de que o maior aporte proteico aumente a mortalidade, enquanto a chance de redução da mortalidade não pôde ser completamente descartada, mas se mostrou menos provável (43,6%). De forma semelhante, observou-se indicativo de maior probabilidade de infecções no grupo que recebia proteínas mais elevadas, apesar de não ter havido efeitos clinicamente relevantes sobre duração da ventilação mecânica. Em relação à qualidade de vida, poucos estudos relataram esse desfecho; ainda assim, a análise sugere que uma oferta proteica alta pode exercer um impacto negativo, embora essa conclusão mereça cautela.

Conclui-se que, apesar de diretrizes históricas encorajarem a oferta proteica mais elevada, a presente meta-análise bayesiana aponta maior probabilidade de dano associado a essa prática e uma baixa chance de benefício clínico substancial. Como implicações para a prática, os achados reforçam a necessidade de individualizar a prescrição nutricional em pacientes críticos, evitando a suposição de que mais proteína seja sempre melhor. Ainda que sejam resultados relevantes, há pontos fortes e limitações a considerar. Entre os pontos fortes, inclui-se o uso de metodologia rigorosa, abrangendo estudos multicêntricos recentes e análise bayesiana, que estima probabilidades de benefício e de dano de forma mais flexível que análises frequentistas convencionais. Já as limitações incluem a heterogeneidade das doses proteicas e das definições de infecção, além de viés de publicação sugerido na análise de mortalidade. É necessário prudência antes de generalizar os resultados a todos os perfis de pacientes críticos, pois subgrupos específicos podem se beneficiar ou ser prejudicados em graus diferentes pela oferta proteica.

Para pesquisas futuras, recomenda-se a realização de ensaios clínicos multicêntricos adicionais que avaliem protocolos de dosagem proteica focados em subgrupos específicos (por exemplo, pacientes com insuficiência renal ou com maior gravidade clínica) e que explorem mecanismos fisiológicos subjacentes aos possíveis efeitos adversos da suplementação proteica elevada.

Referência:
Heuts S, Lee ZY, Lew CCH, et al. Higher Versus Lower Protein Delivery in Critically Ill Patients: A Systematic Review and Bayesian Meta-Analysis. Critical Care Medicine. Publicado em 27 de dezembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1097/CCM.0000000000006562

 


VisionFM: uma IA generalista que supera modelos de única modalidade em diagnósticos oftalmológicos

25 Dez, 2024 | 10:56h

O estudo apresenta o VisionFM, um modelo de inteligência artificial desenvolvido para lidar com múltiplas doenças oftalmológicas e diversas modalidades de imagem, incluindo fotografias de fundo de olho, tomografia de coerência óptica (OCT), angiografia, ultrassom e ressonância magnética. A pesquisa surge do desafio de existirem modelos restritos a tarefas ou doenças específicas, que acabam tendo utilidade clínica limitada e pouca adaptabilidade a novas situações. Assim, o objetivo central foi criar e validar um modelo que pudesse diagnosticar, prever e segmentar estruturas oculares, incorporando diferentes tipos de imagens e cenários clínicos.

Para isso, foram utilizados 3,4 milhões de imagens de mais de 500 mil pacientes, abrangendo variadas doenças oculares, dispositivos de imagem e cenários clínicos, em um processo de pré-treinamento profundo. O VisionFM foi então testado em múltiplas aplicações: rastreamento e detecção de doenças, predição de prognósticos, segmentação de lesões e anatomia ocular, além de comparação com oftalmologistas de diferentes níveis de experiência. Os resultados demonstraram desempenho robusto em diagnósticos de doenças como retinopatia diabética, degeneração macular relacionada à idade, glaucoma, catarata, entre outras, com acurácia comparável à de oftalmologistas intermediários.

As conclusões apontam para a utilidade de um modelo que possa agregar diferentes necessidades em oftalmologia, desde a triagem de pacientes até a previsão de evolução clínica, como no glaucoma. Além disso, a flexibilidade do VisionFM permite incorporar dados de novas doenças e modalidades de imagem, possibilitando ampliações futuras sem necessidade de recomeçar o treinamento. Esse tipo de abordagem geral, porém ajustável, pode acelerar a adoção de IA em regiões com escassez de especialistas e apoiar práticas em locais onde a demanda por exames oftalmológicos é crescente.

Na prática clínica, o VisionFM traz potencial para reduzir custos e tempo na triagem de doenças oculares, especialmente em ambientes com poucos recursos. Contudo, é fundamental manter a cautela, pois o diagnóstico médico não se limita a imagens: informações clínicas complementares seguem indispensáveis. Como pontos fortes, destacam-se a abrangência do banco de dados de pré-treinamento e a habilidade de generalização em diferentes cenários. Entre as limitações, há o predomínio de dados provenientes da população chinesa e a necessidade de validação adicional para tarefas mais complexas, como detecção de tumores intracranianos apenas via imagens de fundo de olho. Além disso, alguns biomarcadores sistêmicos ainda exigem estudos maiores para confirmar a viabilidade do uso em rotina clínica.

Para pesquisas futuras, sugere-se ampliar a diversidade demográfica da base de pré-treinamento, validar o modelo em larga escala em outros países e incorporar novas modalidades de imagem e doenças raras. O VisionFM também poderá evoluir com integrações a modelos de linguagem, tornando-se uma ferramenta ainda mais completa no suporte ao diagnóstico.

Referência
Qiu J, Wu J, Wei H, et al. Development and Validation of a Multimodal Multitask Vision Foundation Model for Generalist Ophthalmic Artificial Intelligence. NEJM AI 2024;1(12). DOI: http://doi.org/10.1056/AIoa2300221

 


Estudo Randomizado: Omissão de Drenagem Profilática após Gastrectomia Aumenta a Necessidade de Procedimentos Invasivos Pós-Operatórios

25 Dez, 2024 | 09:54h

Este estudo investigou se a omissão de drenagem profilática após gastrectomia por câncer poderia manter a mesma segurança em relação à necessidade de reoperações ou drenagens adicionais. Esse é um tema relevante, pois a literatura mais antiga e protocolos de recuperação acelerada (ERAS) questionam o uso rotineiro de drenos, embora muitos serviços ainda os utilizem para prevenir ou identificar complicações intra-abdominais.

A pesquisa foi conduzida em 11 centros na Itália, incluindo hospitais universitários e comunitários, envolvendo 390 pacientes com indicação de gastrectomia subtotal ou total por neoplasia gástrica. Eles foram randomizados para receber ou não um dreno no final da cirurgia, com acompanhamento de 30 e 90 dias. O desfecho primário foi a necessidade de reoperação ou drenagem percutânea até 30 dias após o procedimento cirúrgico. A hipótese inicial era de não inferioridade ao omitir o dreno, considerando uma margem pré-estabelecida.

Os resultados mostraram que 15 pacientes (7,7%) no grupo com dreno e 29 (15%) no grupo sem dreno necessitaram de reoperação ou drenagem percutânea em até 30 dias, evidenciando maior risco de procedimentos invasivos na ausência de dreno. Esse aumento esteve relacionado, principalmente, a reoperações, pois a necessidade de drenagem percutânea foi semelhante em ambos os grupos. As complicações associadas ao uso do dreno foram pouco frequentes (2%). Não houve diferença significativa na incidência total de complicações cirúrgicas ou na taxa de fístulas anastomóticas e duodenais, porém o grupo sem dreno apresentou mais reoperações e maior mortalidade hospitalar. A duração de internação e as taxas de reinternação foram semelhantes entre os grupos.

O estudo concluiu que a prática de não colocar dreno profilático pode elevar o risco de intervenções invasivas no pós-operatório, especialmente quando se considera a realidade de hospitais com menor volume ou infraestrutura limitada. Embora diretrizes anteriores, como as do ERAS, desestimulem o uso rotineiro de drenagem, estes achados reforçam a necessidade de reavaliar tais recomendações em gastrectomias, sobretudo em casos de gastrectomia total, que apresentam anastomoses mais complexas.

Na prática clínica, esses resultados chamam a atenção para individualizar a decisão sobre o dreno, levando em conta o perfil de risco do paciente, a experiência da equipe cirúrgica e a disponibilidade de suporte hospitalar. O dreno não reduziu o tempo de internação nem o número total de complicações, mas proporcionou detecção mais precoce de algumas situações e, principalmente, evitou reoperações em determinados cenários.

Entre os pontos fortes, destaca-se o delineamento multicêntrico com número robusto de participantes e adoção de definições padronizadas para complicações. Entre as limitações, cita-se a ausência de investigação sobre níveis de amilase no dreno e a impossibilidade de “cegamento” absoluto após a cirurgia, o que pode interferir em algumas decisões pós-operatórias. Pesquisas futuras podem focalizar subgrupos de maior risco, a exemplo de gastrectomias totais ou de casos com neoadjuvância mais agressiva, para verificar se há perfil de pacientes que mais se beneficiam do dreno profilático.

Referência
Weindelmayer J, Mengardo V, Ascari F, et al. Prophylactic Drain Placement and Postoperative Invasive Procedures After Gastrectomy: The Abdominal Drain After Gastrectomy (ADIGE) Randomized Clinical Trial. JAMA Surg. Publicado online em 27 de novembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1001/jamasurg.2024.5227

Comentário Editorial
Coffey MR, Lambert KE, Strong VE. Refrain From the Drain? The ADIGE Trial Brings Gastrectomy to the Debate. JAMA Surg. Publicado online em 27 de novembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1001/jamasurg.2024.5228

 


Gestão da sepse em adultos em contextos com recursos limitados: consenso global de especialistas via método Delphi

24 Dez, 2024 | 10:27h

Introdução: Trata-se de um resumo de uma revisão/diretriz que visa fornecer declarações de prática clínica para o manejo da sepse em adultos em contextos com recursos limitados. O texto reflete um consenso internacional obtido por meio de um método Delphi, envolvendo especialistas de diversos países, com foco em recomendações aplicáveis onde o acesso a leitos de UTI, monitorização avançada, exames laboratoriais e profissionais capacitados é escasso. O objetivo principal é complementar as diretrizes existentes, propondo estratégias que considerem as peculiaridades locais, diferenças epidemiológicas e limitações estruturais.

Principais Recomendações:

  1. Local de cuidado e transferência
    • Em caso de inexistência de UTI disponível, recomenda-se a admissão e o tratamento do paciente em setor alternativo, com monitorização mínima de sinais vitais, status neurológico e perfusão periférica.
    • Antes de transferir o paciente para outro centro, garantir via aérea patente, suporte respiratório adequado, acesso venoso funcional, fluidos e administração de antimicrobianos.
    • Utilizar protocolos de referência e telemedicina (quando possível) para guiar condutas em lugares sem especialista em terapia intensiva.
  2. Diagnóstico e parâmetros clínicos
    • Usar escore qSOFA (quando aplicável) para triagem e identificação de sepse em áreas de recursos limitados, reconhecendo suas limitações.
    • Avaliar perfusão tecidual por meio de tempo de enchimento capilar (TEC), nível de consciência e diurese horária.
    • Monitorar diurese de forma rotineira (com cateter vesical em pacientes em choque séptico), especialmente onde a dosagem de lactato não estiver disponível.
  3. Reanimação hemodinâmica
    • Em ausência de lactato sérico, guiar a reposição volêmica pelo TEC, diurese e sinais clínicos de perfusão.
    • Aplicar testes de responsividade a fluidos, como elevação passiva de pernas, variação de pressão de pulso ou ultrassonografia, quando possível.
    • Usar soluções balanceadas (ex.: Ringer lactato ou Hartmann) em vez de soro fisiológico 0,9%, preferencialmente.
    • Reconhecer que em infecções tropicais (como malária, dengue) a reposição agressiva de fluidos pode ser prejudicial devido à maior permeabilidade capilar e ao risco de sobrecarga hídrica. Avaliar regularmente sinais de perfusão e diurese, ajustando o volume de acordo com a resposta clínica para evitar complicações como edema pulmonar.
    • Empregar adrenalina (epinefrina) como vasopressor alternativo quando noradrenalina ou vasopressina não estiverem disponíveis.
    • Na impossibilidade de acesso venoso central, vasopressores podem ser iniciados e mantidos em acesso periférico com vigilância contínua de extravasamento.
  4. Antimicrobianos
    • Iniciar antimicrobianos em até 1 hora, sempre que houver suspeita forte de sepse ou choque séptico.
    • Em áreas com limitações de exames diagnósticos, se houver suspeita de infecção grave, não retardar antibióticos.
    • Em casos de suspeita de parasitas (ex.: malária), introduzir antiparasitários precocemente.
    • Para encurtar duração de terapia, avaliar melhora clínica, redução de leucócitos e ausência de foco infeccioso ativo; exames adicionais (como PCT ou PCR) podem não estar disponíveis em cenários de poucos recursos.
  5. Suporte Respiratório
    • Em insuficiência respiratória aguda hipoxêmica, utilizar ventilação não invasiva (VNI) como opção aceitável quando não houver acesso a alto fluxo nasal (HFNO), com monitorização de possíveis falhas.

Conclusão: As recomendações fornecem orientações concretas para profissionais de saúde em diversos níveis de complexidade, apoiando o reconhecimento precoce e manejo adequado da sepse em ambientes com escassez de leitos de UTI, equipamentos e recursos humanos especializados. Ao adaptar práticas baseadas em evidências às limitações locais, espera-se melhorar os resultados clínicos, reduzir mortalidade e promover maior equidade no tratamento da sepse globalmente.

Referência:
Thwaites, L., Nasa, P., Abbenbroek, B. et al. Management of adult sepsis in resource-limited settings: global expert consensus statements using a Delphi method. Intensive Care Medicine (2024). Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00134-024-07735-7

 


Mantenha-se atualizado em sua especialidade

 

Escolha quantas especialidades quiser.