Radiologia
Atualização da Prática Clínica da AGA para Manejo de Trombose de Veia Porta em Pacientes com Cirrose: Revisão de Especialistas
3 Jan, 2025 | 10:00hIntrodução: Este resumo aborda as principais recomendações de um documento de revisão especializado da American Gastroenterological Association (AGA) sobre trombose de veia porta (TVP) em pacientes com cirrose. A trombose de veia porta é frequente nesses indivíduos e pode contribuir para agravamento da hipertensão portal e maior risco de mortalidade. A diretriz visa orientar a avaliação, o diagnóstico e o tratamento da TVP não maligna em cirróticos, incluindo o uso de anticoagulantes orais diretos e intervenções endovasculares.
Principais Recomendações:
- Screening de rotina: Pacientes assintomáticos e com cirrose compensada não requerem rastreamento frequente de TVP.
- Confirmação por imagem: Quando uma TVP é identificada por ultrassom Doppler, recomenda-se tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) contrastada para confirmar o diagnóstico, avaliar malignidade e caracterizar extensão, oclusão e cronicidade do trombo.
- Investigação de hipercoagulabilidade: Em cirróticos com TVP, a pesquisa de estados hipercoaguláveis não é necessária na ausência de história pessoal ou familiar de tromboembolismo ou outras alterações laboratoriais sugestivas de trombofilia.
- Isquemia intestinal: Pacientes com TVP e sinais de isquemia intestinal devem receber anticoagulação imediata e, quando possível, acompanhamento multidisciplinar (gastroenterologia, hepatologia, radiologia intervencionista, hematologia e cirurgia).
- Conduta em tromboses recentes e pouco extensas: Em pacientes sem isquemia intestinal, com TVP recente (<6 meses) e obstrução <50%, pode-se optar pela observação com reavaliação por imagem a cada 3 meses para verificar regressão espontânea.
- Quando considerar anticoagulação: Em tromboses recentes (<6 meses) com obstrução significativa (>50%) ou envolvendo a veia porta principal ou vasos mesentéricos, recomenda-se iniciar anticoagulação. Também é relevante em candidatos a transplante hepático ou na presença de trombofilias hereditárias.
- Trombose crônica com cavernomas: Se a TVP for crônica (>6 meses), com oclusão total e formação de colaterais (transformação cavernosa), a anticoagulação geralmente não é indicada, pois a chance de recanalização é baixa.
- Triagem de varizes: Recomenda-se rastrear varizes esofágicas (ou outras varizes do trato digestivo) e considerar profilaxia com betabloqueadores não seletivos, mas sem retardar o início da anticoagulação em casos necessários.
- Escolha do anticoagulante: Antagonistas de vitamina K (AVK), heparina de baixo peso molecular (HBPM) e anticoagulantes orais diretos (DOACs) podem ser utilizados conforme o perfil clínico e de acordo com a classe Child-Turcotte-Pugh (CTP). DOACs têm posologia mais simples, mas devem ser usados com cautela em CTP B e evitados em CTP C.
- Duração da anticoagulação: Recomenda-se avaliar resposta à terapia por TC ou RM a cada 3 meses. Se houver regressão, manter a anticoagulação até o transplante ou até resolução do trombo em pacientes que não serão transplantados. Se não houver resposta após 6 meses, a continuidade do tratamento pode ser reavaliada.
- Intervenção endovascular: A revascularização portal via TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunt) pode ser considerada em pacientes com cirrose e TVP que já apresentem indicação para TIPS (por exemplo, ascite refratária ou sangramento varicoso), bem como em candidatos a transplante nos quais a recanalização facilite a viabilidade cirúrgica.
Conclusão: O manejo da TVP em pacientes cirróticos requer análise individualizada, levando em conta a extensão do trombo, o risco de sangramento, a presença de isquemia e a possibilidade de transplante hepático. Essas recomendações auxiliam na tomada de decisão clínica e enfatizam a importância de identificar precocemente trombos extensos, considerando-se o uso criterioso de anticoagulação e eventuais procedimentos intervencionistas.
Referência:
Davis JPE, Lim JK, Francis FF, Ahn J. AGA Clinical Practice Update on Management of Portal Vein Thrombosis in Patients With Cirrhosis: Expert Review. Gastroenterology. 2024. doi: http://doi.org/10.1053/j.gastro.2024.10.038
Grandes Modelos de Linguagem para Relatórios Estruturados em Radiologia: Passado, Presente e Futuro
21 Dez, 2024 | 11:15hContexto: Os relatórios estruturados (RS) têm sido discutidos há décadas como uma forma de padronizar e melhorar a qualidade dos laudos radiológicos. Embora existam evidências de que essa abordagem reduz erros e melhora a aderência a diretrizes, sua adoção ampla ainda é limitada. Modelos de linguagem de grande porte (LLMs, do inglês Large Language Models), baseados em transformadores e treinados em grandes quantidades de dados textuais, emergem como uma solução promissora para automatizar e facilitar a elaboração de relatórios estruturados na radiologia. Este artigo de revisão narrativa apresenta um panorama do uso de LLMs para RS, discutindo ainda limitações, desafios regulatórios e aplicações futuras.
Pontos-Chave:
- Uso de LLMs em Relatórios Estruturados (RS): Os estudos avaliados concentram-se em modelos como GPT-3.5 e GPT-4, demonstrando resultados promissores na conversão de texto livre em relatórios estruturados, inclusive em múltiplos idiomas.
- Principais Benefícios:
- Padronização e melhoria da consistência dos relatórios.
- Possibilidade de reduzir erros e aumentar a abrangência das informações.
- Viabilização do uso de templates e formatações pré-definidas.
- Multilinguismo e Tradução: Pesquisas mostram que vários LLMs podem processar relatórios em diferentes idiomas, facilitando o intercâmbio de informações em escala global.
- Limitações Técnicas: Hallucination (informações inventadas), inconsistências terminológicas e lacunas na interpretação de dados ainda representam obstáculos para uma adoção integral em larga escala.
- Desafios Regulatórios e de Privacidade: A falta de transparência de modelos proprietários e a escassez de processos regulamentados dificultam a incorporação segura e confiável desses sistemas na prática clínica.
Implicações para a Prática:
- Automação e Eficácia: A adoção de LLMs pode otimizar a elaboração de relatórios, reduzir o tempo de digitação e padronizar descrições, trazendo ganhos de eficiência.
- Integração de Sistemas: A incorporação de LLMs em sistemas de Radiologia (PACS, RIS) pode auxiliar na documentação e na formatação do texto, facilitando a comunicação entre equipes.
- Perspectiva Clínica Ampliada: Relatórios mais padronizados podem melhorar a troca de informações e, potencialmente, a segurança do paciente, especialmente em contextos de cuidado multidisciplinar.
Limitações/Considerações:
- Hallucination: Mesmo modelos avançados podem gerar conteúdo errôneo ou fictício sem base na evidência.
- Falta de Transparência: Alguns modelos proprietários não divulgam claramente seus dados de treinamento e algoritmos, dificultando a validação externa.
- Regulamentação em Evolução: A União Europeia e outros países trabalham em leis específicas para IA. Para o uso clínico, será fundamental atender às exigências de segurança, confiabilidade e transparência.
- Disponibilidade de Modelos Abertos: Modelos de código aberto podem oferecer mais flexibilidade regulatória, mas ainda demandam maior validação e refinamento para uso clínico.
Conclusão: A aplicação de LLMs na radiologia tem potencial de transformar a forma como relatórios estruturados são produzidos, trazendo benefícios como maior eficiência e acurácia. Entretanto, questões regulatórias, a falta de transparência de alguns modelos e as limitações técnicas atuais devem ser superadas para que esses modelos sejam incorporados de forma segura e efetiva à prática clínica. Futuras pesquisas devem avaliar a aceitação clínica desses relatórios, compará-los aos produzidos por radiologistas e explorar mecanismos de integração com sistemas existentes.
Fontes e Links:
- Busch, F., Hoffmann, L., dos Santos, D.P. et al. Large language models for structured reporting in radiology: past, present, and future. Eur Radiol (2024). https://doi.org/10.1007/s00330-024-11107-6
Revisão sistemática | Adicionar ultrassonografia à mamografia aumenta a detecção de câncer de mama, mas aumenta falsos-positivos e biópsias
3 Abr, 2023 | 12:11hResumo: A revisão sistemática examinou a eficácia e a segurança da combinação de mamografia com ultrassonografia mamária versus mamografia isolada para rastreamento do câncer de mama em mulheres com risco médio. A pesquisa incluiu 1 ensaio clínico randomizado, 2 estudos de coorte prospectivos e 5 estudos de coorte retrospectivos, envolvendo um total de 209.207 mulheres.
Evidências de alta certeza de um estudo randomizado indicaram que a combinação de mamografia com ultrassonografia levou à detecção de mais casos de câncer de mama do que a mamografia isolada (5 vs. 3 por 1000 mulheres). No entanto, essa combinação também resultou em um maior número de resultados falso-positivos e biópsias. Para cada 1.000 mulheres rastreadas com a abordagem combinada, 37 a mais receberam um resultado falso-positivo e 27 mulheres a mais foram submetidas a biópsia.
A análise secundária dos dados do estudo revelou que, em mulheres com mamas densas, o rastreamento combinado detectou mais casos de câncer do que a mamografia isolada, enquanto estudos de coorte para mulheres com mamas não densas não mostraram diferença estatisticamente significativa entre os dois métodos de rastreamento.
Os estudos incluídos não analisaram se o maior número de cânceres detectados com o método de rastreamento combinado resultou em menores taxas de mortalidade em comparação com a mamografia isolada. Pesquisas adicionais, incluindo ensaios clínicos randomizados ou estudos de coorte prospectivos com períodos de observação mais longos, são necessárias para avaliar o impacto das duas intervenções de rastreamento na morbidade e na mortalidade.
Resumo: Mammography followed by ultrasonography compared to mammography alone for breast cancer screening in women at average risk of breast cancer – Cochrane Database of Systematic Reviews (link para o Google Tradutor)
“Scanxiety” entre adultos com câncer: uma revisão abrangente para orientar pesquisas e intervenções
14 Mar, 2023 | 12:58hResumo: O artigo apresenta uma revisão abrangente da literatura existente sobre “scanxiety”, que se refere à ansiedade e à angústia experimentadas por pacientes com câncer antes e depois da realização de exames de imagem. Os autores identificaram e sintetizaram os resultados de 36 artigos sobre “scanxiety” entre adultos diagnosticados com câncer atual ou prévio.
Os autores observaram que “scanxiety” é um problema prevalente ao longo do continuum do câncer e pode estar ligado a vários fatores relacionados ao próprio procedimento ou à incerteza em torno dos possíveis resultados dos exames. O período de espera entre o procedimento e o recebimento dos resultados foi descrito como particularmente estressante, com os participantes relatando sentir-se sobrecarregados por pensamentos negativos e medos em relação aos possíveis resultados.
Os autores sugerem que a implementação de medidas de apoio durante as experiências de exames, incluindo a análise do período de espera entre exames e resultados, pode melhorar o bem-estar de indivíduos com câncer que estão passando por diferentes estágios de tratamento.
Artigo: Scanxiety among Adults with Cancer: A Scoping Review to Guide Research and Interventions – Cancers (link para o Google Tradutor)
Estudo de coorte | Mudanças de longo prazo no tamanho de microadenomas hipofisários
3 Mar, 2023 | 12:21hResumo: A prevalência de lesões hipofisárias em estudos radiológicos é estimada em 10% a 38,5%. No entanto, não está claro com que frequência lesões incidentais devem ser monitoradas por meio de ressonância magnética seriada da hipófise. Um estudo de coorte longitudinal retrospectivo foi realizado para avaliar mudanças de tamanho em microadenomas hipofisários ao longo do tempo. Durante o período do estudo (de 2003 a 2021), 414 pacientes com microadenomas hipofisários foram identificados, e 177 pacientes realizaram mais de 1 ressonância magnética. Cerca de dois terços dos microadenomas não apresentaram mudança ou tiveram redução de tamanho, e os restantes apresentaram uma taxa de crescimento muito lenta, sugerindo que a uma vigilância menos frequente pode ser segura.
Artigo: Long-Term Changes in the Size of Pituitary Microadenomas – Annals of Internal Medicine (link para o resumo – $ para o texto completo)
Comunicado de imprensa: Fewer surveillance MRIs may be appropriate for patients with incidental pituitary lesions – American College of Physicians (link para o Google Tradutor)
Comentário no Twitter
New from @harvardmed: new study suggests that less frequent pituitary #MRI surveillance for patients with incidental pituitary #microadenomas may be safe: https://t.co/w4hzk8ISQq pic.twitter.com/2MeK14SRph
— Annals of Int Med (@AnnalsofIM) February 28, 2023
Estudo sugere que há pouco valor adicional em se fazer TC de pelve no acompanhamento após o tratamento do carcinoma hepatocelular
23 Fev, 2023 | 15:07hResumo: O estudo investigou o valor adicional da cobertura pélvica na tomografia computadorizada (TC) de acompanhamento do fígado na detecção de metástases pélvicas ou tumores incidentais em pacientes tratados para carcinoma hepatocelular (CHP). O estudo observou que a incidência de metástase pélvica isolada ou tumor pélvico incidental foi baixa em pacientes tratados para CHP. As taxas cumulativas de metástase pélvica isolada e tumor pélvico incidental foram de 1,4% e 0,5%, respectivamente, em 3 anos. Apenas o estágio T basal foi associado a um risco aumentado de metástase pélvica isolada. O estudo concluiu que excluir a TC da pelve pode reduzir a dose de radiação e diminuir a carga de trabalho para os radiologistas. No entanto, o estudo tem limitações, sendo retrospectivo e de único centro. Portanto, mais pesquisas são necessárias para estudar a estratégia de acompanhamento ideal e o efeito da cobertura de TC pélvica na sobrevida de pacientes com CHP.
Artigo: Added Value of Pelvic CT after Treatment of HCC – Radiology
Nanopartículas de gadolínio podem ser detectadas no tecido renal de pacientes após ressonância magnética com contraste de gadolínio, levantando preocupações de segurança
22 Fev, 2023 | 12:29hResumo: Pesquisadores descobriram que pequenas partículas de gadolínio, um metal do grupo das terras raras, podem infiltrar células renais, com potencial para causar efeitos adversos. Essas partículas, usadas para melhorar as imagens de ressonância magnética, foram encontradas em espécimes humanos e de roedores em um estudo usando microscopia eletrônica. O gadolínio é fortemente ligado a moléculas quelantes nos agentes de contraste de ressonância magnética para que possa ser eliminado pelos rins, mas os pesquisadores descobriram que algumas partículas podem vazar e se acumular em tecidos. Isso levanta questões sobre a segurança de agentes de contraste contendo gadolínio, que são usados em cerca de 50% das ressonâncias magnéticas, e destaca a necessidade de pesquisas adicionais sobre riscos e danos potenciais associados a esses agentes.
Artigo: The onset of rare earth metallosis begins with renal gadolinium-rich nanoparticles from magnetic resonance imaging contrast agent exposure – Scientific Reports (link para o Google Tradutor)
Comunicado de imprensa: UNM Researchers Find Nanoparticles of Gadolinium, a Rare Earth Metal Used in MRI Contrast Agents, Can Infiltrate Kidney Tissue – University of New Mexico (link para o Google Tradutor)
Comentário: Expert left ‘astounded’ by gadolinium discovery – Health Imaging (link para o Google Tradutor)
Estudo de coorte | Um terço dos pacientes hospitalizados com Covid-19 persistem com achados na TC de tórax após 2 anos
22 Fev, 2023 | 12:23hResumo: O estudo teve como objetivo avaliar mudanças nos achados em TC de tórax e prova de função pulmonar em pacientes 2 anos após a recuperação de infecção pelo SARS-CoV-2. O estudo prospectivo acompanhou 144 participantes que receberam alta hospitalar após a infecção pelo SARS-CoV-2 entre 15 de janeiro e 10 de março de 2020. Os participantes realizaram exames de TC de tórax seriados e testes de função pulmonar após 6 meses, 12 meses e 2 anos do início dos sintomas. O estudo observou que 39% dos participantes apresentavam achados pulmonares intersticiais persistentes após 2 anos, que se associaram a sintomas respiratórios e a alterações na prova de função pulmonar.
Editorial: Radiologic Findings after COVID-19 and the Correlation with Lung Function – Radiology
Comentários:
Post-COVID-19 CT scans show lung abnormalities persist two years later – News Medical (link para o Google Tradutor)
COVID’s aftermath: Persistent organ damage at 1 year, lung abnormalities at 2 – CIDRAP (link para o Google Tradutor)
Estudo Randomizado | A RM pré-operatória não se mostrou benéfica em pacientes com CA de mama
15 Fev, 2023 | 15:48hResumo: Este estudo investigou o impacto da ressonância magnética pré-operatória na sobrevida e nos resultados cirúrgicos na cirurgia conservadora de câncer de mama. O ensaio clínico randomizado incluiu participantes do sexo feminino com câncer de mama em estágio 0-III, elegíveis para cirurgia conservadora de mama. O estudo constatou que a ressonância magnética pré-operatória aumentou a taxa de mastectomias em 8%, quando comparada aos exames radiológicos de rotina como mamografia e ultrassonografia. No entanto, o uso da ressonância magnética pré-operatória não teve impacto nas taxas de sobrevida livre de recidiva local, sobrevida geral ou reintervenção.*
Artigo: Effects of preoperative magnetic resonance image on survival rates and surgical planning in breast cancer conservative surgery: randomized controlled trial (BREAST-MRI trial) – Breast Cancer Research and Treatment (link para o Google Tradutor)
*Nota: Este resumo foi criado por meio da colaboração entre um editor médico e o ChatGPT.
RM de tumor de célula gigante tenossinovial do tipo difuso no joelho: um guia para diagnóstico e avaliação da resposta ao tratamento
7 Fev, 2023 | 15:23h