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Cardiologia

Estudo Randomizado: Clortalidona vs Hidroclorotiazida e Resultados Renais em Pacientes com Hipertensão

3 Jan, 2025 | 09:00h

Este estudo, parte do Diuretic Comparison Project (DCP), investigou se a chlortalidona seria superior à hidroclorotiazida na prevenção de desfechos renais em pacientes de 65 anos ou mais com hipertensão. A comparação entre essas duas medicações é relevante pois ambas são frequentemente prescritas em situações de hipertensão, principalmente quando há preocupação com risco de complicações renais.

O objetivo central foi analisar se a chlortalidona reduziria a progressão da doença renal crônica (DRC), definida como duplicação do nível de creatinina sérica, taxa de filtração glomerular estimada (eGFR) menor que 15 mL/min ou necessidade de diálise, em comparação com a hidroclorotiazida. O estudo, de caráter pragmático, recrutou veteranos atendidos em unidades do Veterans Affairs (VA) nos Estados Unidos e randomizou pacientes já em uso de hidroclorotiazida (25 ou 50 mg/dia) para continuar com a mesma medicação ou mudar para chlortalidona (12,5 ou 25 mg/dia). Assim, a dose de 12,5 a 25 mg de chlortalidona foi considerada equivalente ao uso de 25 a 50 mg de hidroclorotiazida.

Dos 13 523 participantes, 12 265 apresentavam dados laboratoriais completos e foram acompanhados em média por 3,9 anos. Os resultados mostraram que a chlortalidona não foi superior à hidroclorotiazida em termos de proteção renal, tanto para a definição primária de progressão de DRC quanto em desfechos secundários, incluindo queda de 40% na eGFR, incidência de nova DRC e hospitalizações por lesão renal aguda. Em contrapartida, a chlortalidona esteve associada a maior risco de hipocalemia, embora a diferença absoluta tenha sido relativamente pequena.

Implicações para a Prática
Do ponto de vista clínico, os achados indicam que ambas as medicações podem ser usadas com confiança para o controle da hipertensão em adultos mais velhos, sem evidência de prejuízo adicional ao rim ao se optar por chlortalidona em vez de hidroclorotiazida. Porém, é fundamental acompanhar com atenção o risco aumentado de hipocalemia no grupo da chlortalidona, possivelmente ajustando doses ou associando suplementos de potássio quando necessário. Vale ressaltar que a comparação utilizou doses farmacologicamente equivalentes: 12,5 a 25 mg/dia de chlortalidona equivale a 25 a 50 mg/dia de hidroclorotiazida. Esse detalhe reforça a necessidade de se considerar equivalências de dose ao trocar uma medicação pela outra, bem como monitorar a resposta de cada paciente.

Entre os pontos fortes do estudo, destaca-se o desenho pragmático, que reflete melhor a prática clínica real. Já como limitações, a maioria dos pacientes já fazia uso de hidroclorotiazida antes, o que pode ter influenciado a tolerabilidade relatada. Além disso, os exames laboratoriais de acompanhamento seguiram a rotina clínica habitual, e não um protocolo padronizado.

Pesquisas Futuras
Futuros trabalhos poderiam explorar o uso de chlortalidona em pacientes com DRC mais avançada, bem como a adoção de estratégias de combinação com diuréticos poupadores de potássio. Outros subgrupos, como indivíduos com hiperaldosteronismo ou diabetes mais grave, também merecem investigação para delimitar melhor a segurança e efetividade de cada diurético.

Referência
Ishani A, Hau C, Raju S, et al. “Chlorthalidone vs Hydrochlorothiazide and Kidney Outcomes in Patients With Hypertension: A Secondary Analysis of a Randomized Clinical Trial.” JAMA Netw Open. 2024;7(12):e2449576. DOI: http://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2024.49576

 


Meta-análise de Dose-Resposta: Pelo menos 150 minutos semanais de exercício aeróbico são necessários para redução significativa de cintura e gordura

2 Jan, 2025 | 09:30h

Este estudo surgiu diante do crescente desafio de sobrepeso e obesidade em todo o mundo, condições que acarretam riscos importantes para a saúde, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. O objetivo foi investigar se existe uma relação dose-resposta entre a prática de exercícios aeróbicos (em diferentes durações e intensidades) e a redução de peso corporal, circunferência da cintura e gordura corporal em adultos com sobrepeso ou obesidade.

Para alcançar este objetivo, realizou-se uma meta-análise com 116 ensaios clínicos randomizados, totalizando 6880 participantes, a maioria (61%) mulheres, com idade média de 46 anos. Os estudos compararam grupos que fizeram treinamento aeróbico supervisionado, em modalidades como caminhada ou corrida, por pelo menos 8 semanas, com grupos controle sem intervenção.

Os resultados mostram que cada incremento de 30 minutos por semana de exercício aeróbico se associou a reduções graduais do peso corporal (em média 0,52 kg a menos), da circunferência da cintura (aproximadamente 0,56 cm a menos) e do percentual de gordura corporal (cerca de 0,37 ponto percentual a menos). Houve também diminuição significativa das áreas de tecido adiposo visceral e subcutâneo. Embora o treino aeróbico de qualquer duração ofereça algum benefício, os resultados apontam que a prática de pelo menos 150 minutos semanais, em intensidade moderada ou superior, foi necessária para alcançar reduções clinicamente relevantes na cintura e na gordura corporal.

Conclui-se que a prática regular de exercício aeróbico pode contribuir de maneira importante para o manejo do sobrepeso e da obesidade, reduzindo medidas antropométricas e melhorando a composição corporal. Entretanto, alcançar um volume igual ou superior a 150 minutos semanais de exercício, especialmente em intensidades moderadas a vigorosas, parece ser crucial para resultados mais expressivos.

Na prática clínica, essas descobertas reforçam as diretrizes atuais que recomendam a inclusão do exercício aeróbico como parte fundamental do tratamento da obesidade. Ressalta-se, porém, a necessidade de cautela na prescrição, observando eventuais limitações muscoesqueléticas e progressão adequada de intensidade. Entre os pontos fortes do estudo destacam-se o amplo conjunto de ensaios analisados e a avaliação dose-resposta; como limitações, a heterogeneidade dos protocolos de exercício e a possível variabilidade na aderência. Pesquisas futuras podem explorar o impacto de diferentes intensidades e modalidades de exercício ao longo de períodos mais prolongados, bem como avaliar mais detalhadamente a qualidade de vida e o uso de medicações em diversos subgrupos de pacientes.

Referência: 
Jayedi A, Soltani S, Emadi A, et al. Aerobic Exercise and Weight Loss in Adults: A Systematic Review and Dose-Response Meta-Analysis. JAMA Network Open. 2024;7(12):e2452185. DOI: http://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2024.52185

 


Recomendações de 2025 da ASA para Cuidados Perioperatórios em Idosos Submetidos a Cirurgias Hospitalares

23 Dez, 2024 | 17:30h

ntrodução: Este resumo apresenta uma diretriz da American Society of Anesthesiologists (ASA) sobre o manejo de pacientes com 65 anos ou mais submetidos a cirurgias hospitalares. O foco recai em cuidados pré, intra e pós-operatórios com ênfase na redução de complicações, sobretudo neurocognitivas (delirium e declínio cognitivo), e na preservação da independência funcional desses pacientes.

Principais Recomendações:

  1. Avaliação pré-operatória expandida:
    • Considerar rastreamento de fragilidade, função cognitiva, estado nutricional e aspectos psicossociais.
    • Pacientes com comprometimento cognitivo ou fragilidade devem receber cuidados específicos, incluindo equipe multidisciplinar e acompanhamento geriátrico.
    • Evidências de baixa qualidade sugerem menor risco de delirium quando essas avaliações são realizadas, se comparado à avaliação padrão.
  2. Escolha entre anestesia neuraxial ou geral:
    • As evidências não apontam diferença significativa quanto ao risco de delirium.
    • Recomenda-se decidir com base em preferência do paciente, risco-benefício clínico e decisão compartilhada.
  3. Manutenção com anestesia endovenosa ou inalatória:
    • Não há conclusões sólidas de vantagem de um método específico na prevenção de delirium.
    • Dados limitados indicam potencial redução de comprometimento cognitivo a curto prazo (até 30 dias) com anestesia total intravenosa, mas sem diferença consistente em avaliações de longo prazo.
  4. Farmacoprevenção de delirium com dexmedetomidina:
    • Pode reduzir o risco de delirium em idosos, porém há maior risco de bradicardia e hipotensão.
    • A força de evidência é moderada, mas ainda faltam estudos que definam dose e timing ideais para diferentes perfis de risco.
  5. Uso de fármacos com efeitos centrais (benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticolinérgicos, etc.):
    • Não há evidências claras que permitam recomendar ou contraindicar seu uso de modo definitivo.
    • Considerar os riscos e benefícios com cautela, especialmente em pacientes frágeis ou com transtornos cognitivos prévios.

Conclusão: As recomendações enfatizam a importância de identificar previamente fraquezas e vulnerabilidades em pacientes idosos submetidos a cirurgias hospitalares. A equipe multidisciplinar e a avaliação geriátrica, quando cabíveis, podem reduzir complicações. Não há preferência absoluta por anestesia geral ou neuraxial nem por agentes de manutenção intravenosa ou inalatórios quanto ao risco de delirium, devendo-se priorizar a decisão compartilhada. O uso de dexmedetomidina pode prevenir delirium em certos grupos, embora seja necessário equilibrar benefícios e efeitos cardiovasculares adversos.

Referência: Sieber F, McIsaac DI, Deiner S, et al. 2025 American Society of Anesthesiologists Practice Advisory for Perioperative Care of Older Adults Scheduled for Inpatient Surgery. Anesthesiology. 2025;142(1):22-51. DOI: https://doi.org/10.1097/ALN.0000000000005172

 


Revisão: Manejo Não Cirúrgico da Insuficiência Venosa Crônica

19 Dez, 2024 | 13:47h

Introdução: Este é um resumo de uma revisão sobre o manejo não cirúrgico da insuficiência venosa crônica, uma condição comum caracterizada por hipertensão venosa persistente, levando a sintomas como edema, varizes, alterações cutâneas e úlceras venosas. O foco principal é abordar fatores estruturais e funcionais que contribuem para a doença, considerando intervenções clínicas e comportamentais que podem melhorar a qualidade de vida e reduzir a progressão dos sintomas.

Principais Recomendações:

  1. Abordagem Multifatorial: Avaliar e manejar tanto causas estruturais (por exemplo, refluxo venoso segmentar) quanto funcionais (obesidade, fraqueza muscular, hipertensão venosa central).
  2. Terapia Compressiva: Recomendar o uso de meias de compressão graduada ou bandagens, ajustando o nível de compressão (geralmente entre 20-30 mm Hg ou maior) conforme tolerância e necessidade, visando reduzir edema e melhorar sintomas.
  3. Redução da Pressão Venosa Central: Incentivar a perda de peso em pacientes obesos, avaliar e manejar fatores como apneia obstrutiva do sono e disfunção diastólica cardíaca, evitando o uso excessivo de diuréticos.
  4. Exercícios e Elevação de Pernas: Orientar exercícios específicos para fortalecimento da musculatura da panturrilha e do pé, bem como a elevação frequente das pernas, a fim de melhorar o retorno venoso.
  5. Avaliação de Medicamentos Indutores de Edema: Realizar reconciliação medicamentosa, considerando que fármacos como bloqueadores de canal de cálcio e gabapentinoides podem contribuir para o edema.
  6. Intervenções Estruturais Seletivas: Em casos com refluxo venoso significativo associado a sintomas, considerar procedimentos endovenosos ou cirúrgicos como ablações, escleroterapia ou flebectomia, especialmente em presença de úlceras venosas não cicatrizantes.

Conclusão: O manejo não cirúrgico da insuficiência venosa crônica envolve intervenções clínicas, comportamentais e compressivas, buscando reduzir a hipertensão venosa e melhorar o retorno venoso. Abordar tanto aspectos estruturais quanto funcionais é essencial para otimizar sintomas, promover cicatrização de úlceras e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Referência: Fukaya E, Kolluri R. Nonsurgical Management of Chronic Venous Insufficiency. N Engl J Med. 2024;391:2350–2359. DOI: https://doi.org/10.1056/NEJMra2305443

 


Manejo da Fibrilação Atrial: Evidências Atuais e Recomendações

18 Dez, 2024 | 11:09h

Introdução: A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais comum, associada a aumento no risco de acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca (IC), deterioração cognitiva e mortalidade. Este resumo apresenta um guia de revisão sobre prevenção, detecção, estratificação de risco e manejo da FA, incluindo o controle da frequência, restauração e manutenção do ritmo sinusal, bem como estratégias de anticoagulação para reduzir eventos tromboembólicos.

Principais Recomendações:

  1. Modificação de Fatores de Risco e Estilo de Vida: Recomenda-se perda de peso, exercício regular, cessação do tabagismo, redução do consumo de álcool e controle rigoroso da pressão arterial, em todos os estágios da FA, para prevenir surgimento, recorrência e complicações.
  2. Triagem e Diagnóstico: Em pacientes com fatores de risco ou AVC de origem indeterminada, considerar métodos de monitoramento contínuo (como registradores implantáveis) para detecção de FA assintomática. Confirmar o diagnóstico com ECG.
  3. Prevenção de AVC: Avaliar o risco de AVC e tromboembolismo com escores validados (por exemplo, CHA2DS2-VASc). Para risco anual ≥2%, indicar anticoagulação oral (preferencialmente anticoagulantes diretos como apixabana ou rivaroxabana) para reduzir o risco de AVC em até 80%. A aspirina isolada não é recomendada.
  4. Controle Precoce do Ritmo: Em pacientes com FA sintomática ou com IC e fração de ejeção reduzida (ICFER), o controle precoce do ritmo (medicações antiarrítmicas ou ablação por cateter) pode melhorar sintomas, função cardíaca, qualidade de vida e reduzir hospitalizações.
  5. Ablação por Cateter: Considerar ablação como terapia de primeira linha na FA paroxística sintomática para manter ritmo sinusal e retardar a progressão da doença. Nos pacientes com FA e ICFER, a ablação melhora a função ventricular, reduz a mortalidade e as internações por IC.
  6. Controle da Frequência: Em casos em que o controle do ritmo não é viável ou benéfico, o controle da frequência com betabloqueadores ou bloqueadores do canal de cálcio não diidropiridínicos é indicado. Em situações refratárias, a ablação do nó AV com implante de marcapasso pode ser considerada.
  7. Estadiamento da FA e Manejo a Longo Prazo: Reconhecer os diferentes estágios da FA (risco, pré-FA, FA paroxística/persistente/ablacionada, permanente) para direcionar intervenções personalizadas. Após ablação, manter anticoagulação por pelo menos 3 meses e reavaliar o risco de AVC.
  8. Equidade no Acesso ao Tratamento: Garantir o acesso igualitário a terapias baseadas em diretrizes, incluindo ablação, manejo de fatores de risco e tratamento especializado em populações diversas.

Conclusão: O manejo adequado da FA, com modificação de fatores de risco, uso apropriado de anticoagulantes e controle precoce do ritmo, pode melhorar substancialmente os desfechos, reduzindo AVC, internações por IC e mortalidade. A ablação por cateter desempenha um papel fundamental para determinados pacientes, sobretudo aqueles com FA paroxística sintomática ou ICFER, enquanto a oferta equitativa de cuidados permanece essencial.

Referência: Ko D, Chung MK, Evans PT, et al. Atrial Fibrillation: A Review. JAMA. Publicado online em 16 de dezembro de 2024. doi: https://doi.org/10.1001/jama.2024.22451

 


Estudo de coorte retrospectivo: Uso de medicamentos para pressão arterial sob demanda e risco aumentado de lesão renal aguda e outros desfechos adversos em pacientes internados em hospitais do VA

8 Dez, 2024 | 18:36h

Contexto: Pressões arteriais elevadas e assintomáticas são frequentes no ambiente hospitalar e muitas vezes tratadas com medicamentos para pressão arterial sob demanda (tanto de uso recorrente quanto em dose única). Há preocupação de que essa prática possa levar a reduções rápidas e potencialmente perigosas da pressão arterial, particularmente em pacientes mais idosos ou com doenças cardiovasculares, resultando em eventos isquêmicos, como lesão renal aguda (LRA).

Objetivo: Avaliar se o uso de medicações anti-hipertensivas “sob demanda” para tratar elevações assintomáticas da pressão arterial em pacientes internados em hospitais do Sistema de Saúde dos Veteranos (VA) está associado a um risco aumentado de LRA e outros eventos adversos.

Métodos: Estudo de coorte retrospectivo conduzido por emulação de um ensaio clínico alvo, com escore de propensão para pareamento. Foram incluídos veteranos adultos hospitalizados por 3 ou mais dias em enfermarias não-intensivas do VA entre 1º de outubro de 2015 e 30 de setembro de 2020, sem cirurgia durante a internação, que já usavam ao menos um anti-hipertensivo regular nas primeiras 24 horas e apresentaram pelo menos uma pressão arterial sistólica >140 mmHg. Foram comparados pacientes que receberam medicações anti-hipertensivas sob demanda com aqueles que não receberam, analisando LRA, redução rápida da pressão arterial e um desfecho composto (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou óbito).

Resultados: Foram analisados 133.760 veteranos (média de idade de 71,2 anos; 96% homens). Entre eles, 21% receberam medicação sob demanda. O uso sob demanda foi associado a um risco 23% maior de LRA (HR=1,23; IC95% 1,18-1,29). O risco foi mais pronunciado com medicação intravenosa (HR=1,64) do que oral (HR=1,17). Além disso, houve aumento de eventos adversos, incluindo queda rápida da pressão arterial (aumento de 50% no risco em 3 horas) e maior taxa do desfecho composto (RR=1,69).

Conclusões: O uso de medicações anti-hipertensivas sob demanda em pacientes hospitalizados sem indicação clara de redução aguda da pressão arterial foi associado a aumento de LRA, quedas rápidas da pressão arterial e maior risco de infarto, AVC e morte. Esses achados sugerem necessidade de estudos prospectivos para avaliar o real balanço entre riscos e benefícios desta prática.

Implicações para a Prática: Os resultados levantam questionamentos sobre o uso rotineiro de medicações anti-hipertensivas sob demanda para tratar elevações pressóricas assintomáticas. Dado o potencial de dano, os clínicos devem avaliar cautelosamente a indicação dessa abordagem e considerar medidas não-farmacológicas ou observação antes de optar por intervenções farmacológicas.

Forças e Limitações do Estudo: Pontos fortes incluem o grande tamanho amostral, representatividade nacional e ajuste rigoroso para minimizar confundimento. Limitações incluem a natureza retrospectiva e possibilidade de fatores não mensurados. Embora o estudo não possa estabelecer causalidade, os resultados são robustos e sustentados por análises de sensibilidade.

Pesquisas Futuras: Ensaios clínicos prospectivos são necessários para determinar se a eliminação ou moderação do uso de medicamentos sob demanda para hipertensão assintomática reduz eventos isquêmicos. Pesquisas adicionais podem explorar subgrupos, incluindo cirúrgicos e populações não-veteranas.

Referência: Canales MT, Yang S, Westanmo A, et al. As-Needed Blood Pressure Medication and Adverse Outcomes in VA Hospitals. JAMA Internal Medicine. Publicado online 25 de novembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1001/jamainternmed.2024.6213

 


Estudo Clínico Randomizado Controlado: Intervenção Percutânea com Implante Transcateter de Válvula Aórtica (TAVI) guiada por Reserva de Fluxo Fracionada (FFR) versus Tratamento Cirúrgico Convencional (SAVR + CABG) em Estenose Aórtica Grave e Doença Coronariana Complexa

8 Dez, 2024 | 18:25h

Contexto: A estenose aórtica grave frequentemente coexiste com doença arterial coronariana obstrutiva complexa ou multivascular. A estratégia padrão recomendada pelas diretrizes consiste na substituição valvar aórtica cirúrgica (SAVR) combinada ao bypass coronariano (CABG). Entretanto, o implante transcateter de válvula aórtica (TAVI), associado ao uso de intervenção coronariana percutânea (ICP) guiada por reserva de fluxo fracionada (FFR), surge como uma alternativa menos invasiva e potencialmente segura. Este estudo teve como base a hipótese de que o tratamento percutâneo (TAVI + ICP guiada por FFR) não seria inferior ao tratamento cirúrgico convencional (SAVR + CABG) em pacientes com estenose aórtica grave e doença coronariana complexa.

Objetivo: Avaliar a não-inferioridade e, se demonstrada, a superioridade do TAVI + ICP guiada por FFR em comparação ao SAVR + CABG quanto a desfechos clínicos compostos em um ano, em pacientes com estenose aórtica grave e doença coronariana complexa.

Métodos: Este foi um ensaio clínico internacional, multicêntrico, prospectivo, aberto, randomizado (1:1), conduzido em 18 centros terciários na Europa. Participaram pacientes com ≥70 anos e estenose aórtica grave acompanhada de doença coronariana complexa passíveis de tratamento tanto percutâneo quanto cirúrgico, conforme avaliação do Heart Team. Os pacientes foram alocados para TAVI com válvulas autoexpansíveis (Evolut R ou Evolut PRO), associada à ICP guiada por FFR, ou para tratamento cirúrgico convencional SAVR + CABG. O desfecho primário foi um composto de mortalidade por todas as causas, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral incapacitante, revascularização guiada por sintomas, reintervenção valvar e sangramento com risco à vida ou incapacitante após 1 ano. A análise principal seguiu o princípio de intenção de tratar.

Resultados: Foram incluídos 172 pacientes entre 2018 e 2023 (91 no grupo ICP-FFR+TAVI e 81 no grupo SAVR+CABG). O ponto final primário ocorreu em 4% dos pacientes no grupo ICP-FFR+TAVI versus 23% no grupo SAVR+CABG (diferença do risco: –18,5%; IC90%: –27,8 a –9,7%; p<0,001 para não-inferioridade; p<0,001 para superioridade). A mortalidade por todas as causas foi 0% no grupo percutâneo contra 10% no grupo cirúrgico (p=0,0025). Houve também redução significativa de sangramentos com risco à vida no grupo ICP-FFR+TAVI. Esses achados foram sustentados pelas análises por protocolo e as-treated.

Conclusões: Em pacientes com estenose aórtica grave e doença coronariana complexa, a estratégia percutânea (ICP guiada por FFR + TAVI) mostrou-se não inferior e, na verdade, superior ao tratamento cirúrgico padrão (SAVR + CABG) no prazo de um ano, principalmente devido à redução da mortalidade e de sangramentos graves.

Implicações para a Prática: Os resultados deste estudo sugerem que, para pacientes cuidadosamente selecionados, a abordagem percutânea pode ser considerada uma alternativa viável e possivelmente preferível ao tratamento cirúrgico tradicional, especialmente frente ao menor risco de mortalidade e sangramentos graves. No entanto, diante desta ser a primeira evidência do tipo, a prudência é recomendada antes da adoção rotineira desta estratégia.

Pontos Fortes e Limitações do Estudo: Pontos fortes incluem o delineamento randomizado, multicêntrico e prospectivo, além da avaliação padronizada de desfechos. Contudo, o estudo foi interrompido precocemente, resultando em um tamanho amostral menor do que o inicialmente previsto, o que demanda cautela na extrapolação dos dados. Além disso, um único tipo de prótese TAVI foi utilizado, o que limita a generalização. A utilização do FFR no contexto da estenose aórtica requer interpretação cuidadosa.

Pesquisas Futuras: Estudos maiores, com maior tempo de seguimento e envolvendo diferentes próteses e abordagens de imagem, são necessários para confirmar e estender estes achados, bem como melhor definir quais subgrupos de pacientes se beneficiariam mais dessa estratégia percutânea.

Referência: Kedhi E, Hermanides RS, Dambrink J-HE, Singh SK, Ten Berg JM, van Ginkel DJ, et al. TransCatheter aortic valve implantation and fractional flow reserve-guided percutaneous coronary intervention versus conventional surgical aortic valve replacement and coronary bypass grafting for treatment of patients with aortic valve stenosis and complex or multivessel coronary disease (TCW): an international, multicentre, prospective, open-label, non-inferiority, randomised controlled trial. The Lancet 2024; Published Dec 4. DOI: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(24)02100-7

 


Estudo de coorte: Associação do Índice de Redondeza Corporal com Mortalidade por Todas as Causas

6 Nov, 2024 | 09:34h

Introdução: A obesidade, especialmente a obesidade visceral, é um fator de risco bem estabelecido associado à mortalidade por todas as causas. As medidas antropométricas convencionais, como o índice de massa corporal (IMC), são inadequadas para avaliar a distribuição de gordura corporal. O Índice de Redondeza Corporal (IRC) surge como um indicador mais abrangente para avaliar a gordura visceral e sua associação potencial com o risco de mortalidade.

Objetivo: Avaliar as tendências temporais do IRC entre adultos americanos não institucionalizados e explorar sua associação com a mortalidade por todas as causas.

Métodos: Estudo de coorte utilizando dados de 32.995 adultos (idade ≥20 anos) do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 1999 a 2018. O IRC foi calculado e suas mudanças percentuais bienais foram avaliadas. A mortalidade por todas as causas foi acompanhada até 31 de dezembro de 2019.

Resultados: A idade média dos participantes foi de 46,74 anos, com 50,10% de mulheres. O IRC médio aumentou de 4,80 para 5,62 entre 1999 e 2018, com uma mudança bienal de 0,95% (P < 0,001). Esse aumento foi mais pronunciado em mulheres, idosos e indivíduos identificados como mexicano-americanos. Durante um seguimento mediano de 9,98 anos, ocorreram 3.452 óbitos (10,46% dos participantes). Observou-se uma associação em forma de U entre o IRC e a mortalidade por todas as causas. Comparado ao quintil médio de IRC (4,5 a 5,5), o risco de mortalidade aumentou em 25% (HR=1,25; IC 95%, 1,05-1,47) para indivíduos com IRC < 3,4 e em 49% (HR=1,49; IC 95%, 1,31-1,70) para aqueles com IRC ≥ 6,9, após ajustes completos.

Conclusões: O estudo revelou um aumento progressivo do IRC em adultos americanos ao longo de quase duas décadas e uma associação em forma de U entre o IRC e a mortalidade por todas as causas. O IRC demonstra potencial como uma medida antropométrica associada ao risco de mortalidade.

Implicações para a Prática: Os achados sugerem que o IRC pode ser utilizado como uma ferramenta de triagem não invasiva para estimar o risco de mortalidade em adultos, auxiliando na identificação precoce de indivíduos em risco e orientando intervenções clínicas direcionadas.

Pontos Fortes e Limitações do Estudo: Pontos fortes incluem o uso de uma amostra nacionalmente representativa e um longo período de seguimento. Limitações envolvem a possibilidade de viés devido à diminuição das taxas de resposta do NHANES ao longo dos anos e a não avaliação da mortalidade por causas específicas devido ao tamanho da amostra.

Pesquisa Futura: Estudos futuros devem validar esses achados em outras populações e investigar a associação do IRC com mortalidade específica por doenças, além de explorar mecanismos biológicos subjacentes.

Referência: Zhang X, Ma N, Lin Q, et al. Body Roundness Index and All-Cause Mortality Among US Adults. JAMA Network Open. 2024;7(6). DOI: http://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2024.15051

 


Análise post hoc | Aspirina em baixa dose está associada a maior risco de anemia em idosos

29 Jun, 2023 | 11:13h

Resumo: Em uma análise post hoc do ensaio clínico randomizado ASPREE, foi investigado o impacto da aspirina de baixa dose diária sobre a anemia, a hemoglobina e concentrações séricas de ferritina em indivíduos idosos. O estudo incluiu 19.114 indivíduos da comunidade com 70 anos ou mais (ou ≥ 65 anos para indivíduos negros e hispânicos) da Austrália e dos Estados Unidos.

Os resultados revelaram um aumento na incidência de anemia no grupo da aspirina em comparação com o grupo placebo (51,2 eventos vs. 42,9 eventos por 1.000 pessoas-ano, respectivamente). Isso se correlaciona com um aumento de 20% no risco (razão de risco, 1,20 [IC 95%, 1,12 a 1,29]). As concentrações de hemoglobina mostraram um declínio mais acentuado no grupo da aspirina em 0,6 g/L a cada 5 anos. Além disso, entre os participantes com medidas de ferritina, o grupo da aspirina exibiu uma prevalência maior de níveis de ferritina inferiores a 45 µg/L no 3º ano e declínio geral da ferritina em 11,5%. O estudo encontrou resultados semelhantes mesmo na ausência de sangramento importante.

Essa pesquisa destaca o risco de anemia e declínio da ferritina em idosos saudáveis que tomam aspirina de baixa dose, destacando a necessidade de monitoramento periódico dos níveis de hemoglobina. No entanto, o estudo não dispunha de dados sobre as causas da anemia, indicando a necessidade de mais pesquisas.

Artigo: Effect of Low-Dose Aspirin Versus Placebo on Incidence of Anemia in the Elderly: A Secondary Analysis of the Aspirin in Reducing Events in the Elderly Trial – Annals of Internal Medicine (link para o resumo – $ para o texto completo)

Comunicado de imprensa: Low-dose aspirin may increase anaemia risk in healthy older adults: study – Monash University

Comentários:

Aspirin Use Ups Risk of Anemia in Elderly Patients: ASPREE – TCTMD

Low-dose aspirin associated with 20% increase in risk of anemia among older adults – ACP Internist

Estudo original: Effect of Aspirin on All-Cause Mortality in the Healthy Elderly – New England Journal of Medicine

 


Análise secundária de um ECR | Ácido bempedoico reduz eventos CV em pacientes intolerantes a estatinas com alto risco CV

25 Jun, 2023 | 23:05h

Resumo: Esta análise secundária de um ensaio clínico randomizado avaliou a eficácia do ácido bempedoico na prevenção primária de eventos cardiovasculares em pacientes com alto risco cardiovascular e intolerantes a estatinas. De um total de 13.970 participantes, 4.206 preencheram os critérios para prevenção primária e foram analisados neste estudo. Aqueles que receberam ácido bempedoico mostraram uma redução significativa nos principais eventos cardiovasculares, refletida em uma razão de risco de 0,70.

A média de idade desta coorte de pacientes foi de 68 anos, e a maioria dos participantes (66%) foi diagnosticada com diabetes. O tratamento com ácido bempedoico também levou a uma redução significativa de 21,3% nos níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-colesterol) e a uma diminuição de 21,5% nos níveis de proteína C-reativa de alta sensibilidade, sugerindo melhor saúde cardiovascular.

Este estudo destaca os potenciais benefícios da terapia de modulação lipídica para a prevenção primária em pacientes de alto risco que, muitas vezes, são subtratados. No entanto, é importante notar as limitações inerentes a esta análise secundária. A análise foi realizada em um subgrupo dentro de um ensaio clínico maior, o que poderia potencialmente levar a falsos-positivos em virtude dos múltiplos testes. Além disso, os resultados podem não ser generalizáveis para populações mais jovens, aqueles com níveis de LDL-colesterol pré-tratamento mais baixos, aqueles sem diabetes ou aqueles com um risco cardiovascular basal mais baixo.

Artigo: Bempedoic Acid for Primary Prevention of Cardiovascular Events in Statin-Intolerant Patients – JAMA (gratuito por tempo limitado)

Editorial: Bempedoic Acid for High-Risk Primary Prevention of Cardiovascular Disease: Not a Statin Substitute but a Good Plan B – JAMA (gratuito por tempo limitado)

Ver também: Visual Abstract

Comentário: Study Suggests Bempedoic Acid Could Find Role in Primary Prevention – HCP Live

Estudo original: RCT | Bempedoic acid shows modest reduction in cardiovascular events for statin-intolerant patients

 


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