Cirurgia Gastrintestinal
Diagnóstico e Manejo da Esofagite Eosinofílica: Diretriz Clínica do ACG
6 Jan, 2025 | 13:00hIntrodução: A esofagite eosinofílica (EoE) é uma doença inflamatória crônica do esôfago, mediada por processo imunológico e desencadeada na maioria das vezes por alérgenos alimentares e aeroalérgenos. Caracteriza-se por sintomas de disfunção esofágica – como disfagia e impactação alimentar – associados a um infiltrado eosinofílico significativo (≥15 eosinófilos por campo de grande aumento) na biópsia esofágica. Esta diretriz atualizada do American College of Gastroenterology (ACG) aborda aspectos de diagnóstico, tratamento, monitoramento e recomendações específicas para populações pediátricas e adultas, adotando a metodologia GRADE para embasar as recomendações.
Principais Recomendações:
Diagnóstico e Avaliação Inicial:
- Confirmar EoE pela presença de sintomas de disfunção esofágica (por exemplo, disfagia, recusa alimentar em crianças) e contagem de pelo menos 15 eosinófilos por campo de grande aumento na biópsia.
- Excluir outras causas de eosinofilia esofágica, como doenças infecciosas ou gastroesofágicas não relacionadas.
- Empregar sistema de pontuação endoscópica (EREFS) para avaliar edema, anéis, exsudatos, sulcos, constrições e estreitamentos. Obter pelo menos 6 biópsias esofágicas de diferentes níveis (proximal/distal) para maximizar a sensibilidade diagnóstica. Utilizar o sistema EREFS em todas as endoscopias para EoE.
Inibidores de Bomba de Prótons (IBPs):
- São opção terapêutica de primeira linha para EoE. Doses altas, correspondentes ao dobro da dose usual para refluxo (p. ex. omeprazol 40 mg duas vezes ao dia), podem ser utilizadas, em especial em esquemas de dose diária ou dividida, a depender da adesão do paciente. Os IBPs podem atuar por mecanismos que vão além da supressão ácida.
- Manter vigilância de potenciais efeitos adversos, embora seu perfil de segurança seja favorável.
Corticosteroides Tópicos (CTs):
- Recomendam-se preparações de budesonida (formulações aprovadas para EoE, como suspensões orais viscosas ou comprimidos orodispersíveis) ou fluticasona (em aerossol ou formulações para deglutição) para reduzir inflamação esofágica.
- Ambas demonstram boa eficácia histológica e endoscópica, além de melhorar sintomas de disfagia em crianças e adultos.
- O efeito adverso mais comum é candidíase orofaríngea ou esofágica, geralmente assintomática e controlável.
Dietas de Eliminação (FEDs):
- Dietas empíricas, como a dieta de exclusão de 1 a 6 alimentos, podem induzir remissão em cerca de 50-60% (1 alimento – leite de vaca), 40-50% (4 alimentos) e 50-70% (6 alimentos) dos casos, sendo mais restritivas (6 alimentos) geralmente mais eficazes, porém menos práticas. A dieta de exclusão de 1 alimento (leite de vaca) pode ser considerada como opção terapêutica inicial, apesar de menos estudada que as demais.
- A reintrodução gradual dos alimentos é fundamental para identificar o(s) gatilho(s). O acompanhamento com nutricionista é fortemente recomendado para monitorar o estado nutricional, especialmente em crianças.
Biológicos:
- Dupilumabe (anti-IL-4Rα) está aprovado para pacientes ≥12 anos e também para crianças de 1 a 11 anos com EoE que não respondam a IBPs; demonstra boa eficácia endoscópica, histológica e de melhora de sintomas. É administrado por via subcutânea, semanalmente (≥ 12 anos) ou a cada duas semanas (1-11 anos, com doses ajustadas pelo peso).
- Outras terapias biológicas (anti-IL-13, anti-IL-5, anti-IgE) ainda não apresentam evidências suficientes para recomendação formal.
Dilatação Esofágica:
- Indicada como tratamento adjunto em pacientes com estreitamentos ou anéis fibrosos que causem disfagia refratária.
- Procedimento seguro e eficaz; o risco de perfuração é baixo. Deve ser preferencialmente combinado ao controle inflamatório, pois trata apenas o aspecto fibroestenótico da doença.
Manutenção e Monitoramento:
- A manutenção de terapia efetiva (seja farmacológica ou dietética) é recomendada para todos os pacientes para evitar recorrência de inflamação, risco de complicações e progressão fibroestenótica.
- A avaliação periódica deve incluir sintomas, endoscopia com biópsias e, em alguns casos, métodos complementares (ex.: EndoFLIP). A adesão e a resposta ao tratamento devem ser continuamente avaliadas.
- Em crianças, atentar-se ao crescimento e ao desenvolvimento de habilidades alimentares, com suporte de nutricionistas e/ou terapeutas ocupacionais especializados, se necessário.
Conclusão: A EoE é uma doença crônica, de caráter recidivante, que requer abordagem multidisciplinar para diagnóstico e manejo eficaz. O tratamento visa controlar a inflamação e prevenir a progressão fibroestenótica, mantendo ou melhorando a qualidade de vida do paciente. IBPs, CTs, FEDs e dupilumabe são opções válidas, devendo-se considerar preferências do paciente/família e a disponibilidade de recursos.
Referência: Dellon ES, Muir AB, Katzka DA, Shah SC, Sauer BG, Aceves SS, Furuta GT, Gonsalves N, Hirano I. ACG Clinical Guideline: Diagnosis and Management of Eosinophilic Esophagitis. The American Journal of Gastroenterology. 2025 Jan;120(1):31-59. DOI: https://doi.org/10.14309/ajg.0000000000003194
Atualização da Prática Clínica da AGA para Manejo de Trombose de Veia Porta em Pacientes com Cirrose: Revisão de Especialistas
3 Jan, 2025 | 10:00hIntrodução: Este resumo aborda as principais recomendações de um documento de revisão especializado da American Gastroenterological Association (AGA) sobre trombose de veia porta (TVP) em pacientes com cirrose. A trombose de veia porta é frequente nesses indivíduos e pode contribuir para agravamento da hipertensão portal e maior risco de mortalidade. A diretriz visa orientar a avaliação, o diagnóstico e o tratamento da TVP não maligna em cirróticos, incluindo o uso de anticoagulantes orais diretos e intervenções endovasculares.
Principais Recomendações:
- Screening de rotina: Pacientes assintomáticos e com cirrose compensada não requerem rastreamento frequente de TVP.
- Confirmação por imagem: Quando uma TVP é identificada por ultrassom Doppler, recomenda-se tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) contrastada para confirmar o diagnóstico, avaliar malignidade e caracterizar extensão, oclusão e cronicidade do trombo.
- Investigação de hipercoagulabilidade: Em cirróticos com TVP, a pesquisa de estados hipercoaguláveis não é necessária na ausência de história pessoal ou familiar de tromboembolismo ou outras alterações laboratoriais sugestivas de trombofilia.
- Isquemia intestinal: Pacientes com TVP e sinais de isquemia intestinal devem receber anticoagulação imediata e, quando possível, acompanhamento multidisciplinar (gastroenterologia, hepatologia, radiologia intervencionista, hematologia e cirurgia).
- Conduta em tromboses recentes e pouco extensas: Em pacientes sem isquemia intestinal, com TVP recente (<6 meses) e obstrução <50%, pode-se optar pela observação com reavaliação por imagem a cada 3 meses para verificar regressão espontânea.
- Quando considerar anticoagulação: Em tromboses recentes (<6 meses) com obstrução significativa (>50%) ou envolvendo a veia porta principal ou vasos mesentéricos, recomenda-se iniciar anticoagulação. Também é relevante em candidatos a transplante hepático ou na presença de trombofilias hereditárias.
- Trombose crônica com cavernomas: Se a TVP for crônica (>6 meses), com oclusão total e formação de colaterais (transformação cavernosa), a anticoagulação geralmente não é indicada, pois a chance de recanalização é baixa.
- Triagem de varizes: Recomenda-se rastrear varizes esofágicas (ou outras varizes do trato digestivo) e considerar profilaxia com betabloqueadores não seletivos, mas sem retardar o início da anticoagulação em casos necessários.
- Escolha do anticoagulante: Antagonistas de vitamina K (AVK), heparina de baixo peso molecular (HBPM) e anticoagulantes orais diretos (DOACs) podem ser utilizados conforme o perfil clínico e de acordo com a classe Child-Turcotte-Pugh (CTP). DOACs têm posologia mais simples, mas devem ser usados com cautela em CTP B e evitados em CTP C.
- Duração da anticoagulação: Recomenda-se avaliar resposta à terapia por TC ou RM a cada 3 meses. Se houver regressão, manter a anticoagulação até o transplante ou até resolução do trombo em pacientes que não serão transplantados. Se não houver resposta após 6 meses, a continuidade do tratamento pode ser reavaliada.
- Intervenção endovascular: A revascularização portal via TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunt) pode ser considerada em pacientes com cirrose e TVP que já apresentem indicação para TIPS (por exemplo, ascite refratária ou sangramento varicoso), bem como em candidatos a transplante nos quais a recanalização facilite a viabilidade cirúrgica.
Conclusão: O manejo da TVP em pacientes cirróticos requer análise individualizada, levando em conta a extensão do trombo, o risco de sangramento, a presença de isquemia e a possibilidade de transplante hepático. Essas recomendações auxiliam na tomada de decisão clínica e enfatizam a importância de identificar precocemente trombos extensos, considerando-se o uso criterioso de anticoagulação e eventuais procedimentos intervencionistas.
Referência:
Davis JPE, Lim JK, Francis FF, Ahn J. AGA Clinical Practice Update on Management of Portal Vein Thrombosis in Patients With Cirrhosis: Expert Review. Gastroenterology. 2024. doi: http://doi.org/10.1053/j.gastro.2024.10.038
Meta-análise: Um dia de dieta com baixo resíduo tem eficácia semelhante à de múltiplos dias na limpeza intestinal para colonoscopia
26 Dez, 2024 | 15:28hEste estudo apresenta uma meta-análise que investigou se a adoção de um dia de dieta com baixo resíduo (DBR) é tão eficaz quanto seguir vários dias desse regime na preparação para colonoscopia. O contexto parte da necessidade de limpeza intestinal adequada, fundamental para a detecção e prevenção de patologias colorretais, incluindo pólipos e adenomas. Embora diretrizes recentes apoiem o uso de DBR, ainda não há consenso claro sobre a duração ideal (1 dia ou mais de 1 dia) para otimizar a preparação e melhorar a experiência do paciente.
O objetivo principal foi comparar a eficácia de 1 dia de DBR com mais de 1 dia de DBR em termos de qualidade da limpeza intestinal e de taxas de detecção de pólipos e adenomas. Para isso, foram incluídos seis estudos clínicos randomizados, com um total de 2.469 participantes adultos que se submeteram à colonoscopia por diferentes indicações clínicas. O desenho geral envolveu a prescrição de DBR por um ou vários dias, associada a diferentes soluções de preparo (por exemplo, polietilenoglicol com ou sem ascorbato, podendo incluir outras substâncias auxiliares). A comparação entre os grupos enfatizou taxas de preparo adequado, detecção de pólipos e adenomas, e tempos de retirada do colonoscópio.
Os resultados mostraram que a taxa de limpeza adequada, avaliada principalmente pelo Boston Bowel Preparation Scale (BBPS), foi semelhante entre o grupo de 1 dia de DBR (87,2%) e o grupo de múltiplos dias (87,1%). Não se observaram diferenças estatisticamente significativas na detecção de pólipos nem na de adenomas. Além disso, o tempo de retirada do colonoscópio e a taxa de intubação cecal mostraram resultados equiparáveis entre as duas estratégias de dieta.
Em termos de conclusões, o estudo reforça que um período mais curto de DBR (apenas 1 dia) pode ser suficientemente eficaz para garantir visualização adequada do cólon, sem comprometer as taxas de detecção de lesões importantes. Assim, a adoção de 1 dia de DBR surge como uma alternativa prática e segura, podendo facilitar a adesão dos pacientes, reduzir a carga alimentar restritiva e otimizar o fluxo de procedimentos nos serviços de endoscopia.
Nas implicações para a prática clínica, ressalta-se que o menor tempo de restrição pode aumentar o conforto e a cooperação do paciente, sem queda na qualidade da limpeza. Contudo, a decisão final deve considerar condições específicas, como constipação crônica e comorbidades, além das preferências individuais.
Entre os pontos fortes do estudo, destaca-se a inclusão exclusiva de ensaios clínicos randomizados, o que reforça a confiabilidade dos achados. A heterogeneidade foi baixa ou ausente nos principais desfechos, indicando boa consistência metodológica. Como limitações, houve variação nos protocolos de DBR (inclusive quanto aos cardápios adotados) e diferenças quanto a desfechos secundários avaliados. Ademais, alguns estudos apresentaram risco de viés por seleção ou métodos de análise.
Para pesquisas futuras, sugere-se ampliar a investigação de desfechos econômicos (custos com preparo), adesão dos pacientes (satisfação, conforto) e possíveis diferenças em grupos específicos (por exemplo, pessoas idosas ou constipadas). Investigações adicionais sobre a composição exata da DBR em diferentes contextos culturais podem auxiliar na elaboração de diretrizes mais detalhadas.
Referência
Putri RD, Amalia F, Utami FA, Pamela Y, Syamsunarno MRAA. One-day low-residue diet is equally effective as the multiple-day low-residue diet in achieving adequate bowel cleansing: a meta-analysis of randomized controlled trials. Clinical Endoscopy. 2024. DOI: https://doi.org/10.5946/ce.2024.061
Estudo Randomizado: Omissão de Drenagem Profilática após Gastrectomia Aumenta a Necessidade de Procedimentos Invasivos Pós-Operatórios
25 Dez, 2024 | 09:54hEste estudo investigou se a omissão de drenagem profilática após gastrectomia por câncer poderia manter a mesma segurança em relação à necessidade de reoperações ou drenagens adicionais. Esse é um tema relevante, pois a literatura mais antiga e protocolos de recuperação acelerada (ERAS) questionam o uso rotineiro de drenos, embora muitos serviços ainda os utilizem para prevenir ou identificar complicações intra-abdominais.
A pesquisa foi conduzida em 11 centros na Itália, incluindo hospitais universitários e comunitários, envolvendo 390 pacientes com indicação de gastrectomia subtotal ou total por neoplasia gástrica. Eles foram randomizados para receber ou não um dreno no final da cirurgia, com acompanhamento de 30 e 90 dias. O desfecho primário foi a necessidade de reoperação ou drenagem percutânea até 30 dias após o procedimento cirúrgico. A hipótese inicial era de não inferioridade ao omitir o dreno, considerando uma margem pré-estabelecida.
Os resultados mostraram que 15 pacientes (7,7%) no grupo com dreno e 29 (15%) no grupo sem dreno necessitaram de reoperação ou drenagem percutânea em até 30 dias, evidenciando maior risco de procedimentos invasivos na ausência de dreno. Esse aumento esteve relacionado, principalmente, a reoperações, pois a necessidade de drenagem percutânea foi semelhante em ambos os grupos. As complicações associadas ao uso do dreno foram pouco frequentes (2%). Não houve diferença significativa na incidência total de complicações cirúrgicas ou na taxa de fístulas anastomóticas e duodenais, porém o grupo sem dreno apresentou mais reoperações e maior mortalidade hospitalar. A duração de internação e as taxas de reinternação foram semelhantes entre os grupos.
O estudo concluiu que a prática de não colocar dreno profilático pode elevar o risco de intervenções invasivas no pós-operatório, especialmente quando se considera a realidade de hospitais com menor volume ou infraestrutura limitada. Embora diretrizes anteriores, como as do ERAS, desestimulem o uso rotineiro de drenagem, estes achados reforçam a necessidade de reavaliar tais recomendações em gastrectomias, sobretudo em casos de gastrectomia total, que apresentam anastomoses mais complexas.
Na prática clínica, esses resultados chamam a atenção para individualizar a decisão sobre o dreno, levando em conta o perfil de risco do paciente, a experiência da equipe cirúrgica e a disponibilidade de suporte hospitalar. O dreno não reduziu o tempo de internação nem o número total de complicações, mas proporcionou detecção mais precoce de algumas situações e, principalmente, evitou reoperações em determinados cenários.
Entre os pontos fortes, destaca-se o delineamento multicêntrico com número robusto de participantes e adoção de definições padronizadas para complicações. Entre as limitações, cita-se a ausência de investigação sobre níveis de amilase no dreno e a impossibilidade de “cegamento” absoluto após a cirurgia, o que pode interferir em algumas decisões pós-operatórias. Pesquisas futuras podem focalizar subgrupos de maior risco, a exemplo de gastrectomias totais ou de casos com neoadjuvância mais agressiva, para verificar se há perfil de pacientes que mais se beneficiam do dreno profilático.
Referência
Weindelmayer J, Mengardo V, Ascari F, et al. Prophylactic Drain Placement and Postoperative Invasive Procedures After Gastrectomy: The Abdominal Drain After Gastrectomy (ADIGE) Randomized Clinical Trial. JAMA Surg. Publicado online em 27 de novembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1001/jamasurg.2024.5227
Comentário Editorial
Coffey MR, Lambert KE, Strong VE. Refrain From the Drain? The ADIGE Trial Brings Gastrectomy to the Debate. JAMA Surg. Publicado online em 27 de novembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1001/jamasurg.2024.5228
Atualização da AGA sobre Triagem e Vigilância em Indivíduos com Maior Risco de Câncer Gástrico nos EUA: Revisão de Especialistas
25 Dez, 2024 | 08:05hIntrodução: O presente documento, publicado pela American Gastroenterological Association (AGA), aborda estratégias de prevenção primária e secundária do câncer gástrico (CG) em populações de alto risco nos Estados Unidos. Apesar de a incidência geral do CG ter diminuído em algumas regiões, certos grupos raciais, étnicos e imigrantes de primeira geração provenientes de áreas com alta prevalência de CG permanecem vulneráveis. O objetivo principal desta revisão é fornecer orientações de melhores práticas para triagem endoscópica, vigilância de lesões pré-malignas e rastreamento de Helicobacter pylori, de forma a reduzir a morbidade e mortalidade relacionadas ao CG.
Principais Recomendações:
- Populações de alto risco: Incluem imigrantes de primeira geração de áreas com alta incidência de CG, indivíduos com histórico familiar de CG em parentes de primeiro grau e aqueles com síndromes hereditárias associadas ao câncer gastrointestinal.
- Método de triagem preferencial: A endoscopia digestiva alta (EDA) é o exame recomendado para rastrear e vigiar condições pré-malignas (atrofia gástrica e metaplasia intestinal) e neoplasias gástricas iniciais, permitindo biópsias e estadiamento tecidual.
- Qualidade do exame endoscópico: O uso de equipamentos de alta definição, limpeza adequada da mucosa gástrica, tempo suficiente de inspeção e realização de biópsias sistemáticas (por exemplo, protocolo de Sydney ampliado) são fatores críticos para melhor detecção de lesões.
- Erradicação do H. pylori: Além da triagem endoscópica, a erradicação do H. pylori constitui estratégia fundamental de prevenção primária (reduzindo a incidência) e secundária (evitando evolução de lesões pré-malignas).
- Obtenção de biópsias sistemáticas: Em casos de suspeita de atrofia ou metaplasia, devem ser colhidas pelo menos cinco biópsias do antro/incisura e do corpo gástrico em frascos separados, mais amostras adicionais de áreas suspeitas.
- Capacitação na detecção de metaplasia e displasia: A familiaridade do endoscopista com a aparência endoscópica da metaplasia intestinal e da displasia é essencial; em muitos casos, o treinamento específico e o uso de tecnologias de imagem (por exemplo, narrow band imaging) aumentam a acurácia diagnóstica.
- Estratificação de risco e vigilância: A decisão sobre intervalos de vigilância endoscópica (por exemplo, a cada 3 anos) deve levar em conta a gravidade e extensão da atrofia/metaplasia, presença de displasia e fatores adicionais (história familiar, tabagismo, entre outros).
- Manejo da displasia: Toda displasia deve ser confirmada por patologista gastrointestinal experiente. Lesões suspeitas ou confirmadas (p. ex., displasia de alto grau ou câncer gástrico precoce) devem ser encaminhadas para centros com expertise em ressecção endoscópica (dissecção endoscópica submucosa).
- Rastreamento de familiares: A triagem para H. pylori em contactantes próximos de indivíduos infectados pode aumentar as taxas de erradicação familiar e diminuir a recidiva.
- Descontinuação de rastreamento: A triagem e a vigilância devem ser interrompidas em pacientes sem condições clínicas de se submeterem a procedimentos endoscópicos ou cirúrgicos curativos.
- Equidade na saúde e abordagens personalizadas: Para reduzir disparidades, a avaliação de risco deve considerar fatores como raça, etnia, local de origem, condições socioeconômicas e acesso à saúde, visando um cuidado sob medida para cada indivíduo.
Conclusão: A implementação de um programa efetivo de rastreamento e vigilância do CG nos Estados Unidos depende de três pilares: identificação adequada dos indivíduos de risco (incluindo erradicação do H. pylori), realização de endoscopias de alta qualidade e seguimento apropriado dos achados, com intervalos de vigilância personalizados. A abordagem multifatorial, incluindo políticas de saúde que favoreçam o acesso ao diagnóstico precoce, pode impactar significativamente a mortalidade por CG, promovendo equidade e melhores desfechos clínicos.
Referência:
Shah SC, Wang AY, Wallace MB, Hwang JH. AGA Clinical Practice Update on Screening and Surveillance in Individuals at Increased Risk for Gastric Cancer in the United States: Expert Review. Gastroenterology. Publicado online em 23 de dezembro de 2024.
Link DOI: https://doi.org/10.1053/j.gastro.2024.11.001
M-A | Hidratação IV agressiva pode aumentar o risco de mortalidade na pancreatite aguda grave
29 Mar, 2023 | 11:27hResumo: Esta revisão sistemática e metanálise investigou os desfechos da hidratação intravenosa agressiva versus não agressiva em pacientes com pancreatite aguda (PA) grave e não grave. O estudo incluiu 9 ensaios clínicos randomizados com um total de 953 participantes.
Os resultados revelaram que a hidratação intravenosa agressiva aumentou significativamente o risco de mortalidade em casos de PA grave e o risco de complicações relacionadas a fluidos em casos de PA grave e não grave. No entanto, o estudo possui algumas limitações, pois apenas 1 estudo com 249 participantes foi considerado com baixo risco de viés em todos os domínios, enquanto os outros 8 estudos apresentaram risco de viés não baixo, levantando preocupações sobre a confiabilidade dos resultados.
Apesar dessas preocupações, os resultados sugerem que protocolos de reanimação com fluidos intravenosos mais conservadores para PA podem ser preferíveis. Mais pesquisas com desenhos de estudo mais rigorosos são necessárias para fornecer evidências robustas sobre a eficácia das diferentes estratégias de hidratação intravenosa no tratamento da pancreatite aguda.
Artigo: Comparison of clinical outcomes between aggressive and non-aggressive intravenous hydration for acute pancreatitis: a systematic review and meta-analysis – Critical Care (link para o Google Tradutor)
Estudo revela uso excessivo de colonoscopia de vigilância em idosos com expectativa de vida limitada
23 Mar, 2023 | 11:14hResumo: Este estudo investigou a associação entre a expectativa de vida estimada, achados de colonoscopia de vigilância e as recomendações de acompanhamento em idosos. O estudo utilizou dados do registro de colonoscopia de New Hampshire e incluiu adultos com mais de 65 anos que realizaram colonoscopia de vigilância para pólipos anteriores.
A expectativa de vida foi estimada usando um modelo de previsão validado e categorizada em três grupos: menos de 5 anos, de 5 a menos de 10 anos e 10 anos ou mais.
Dos 9.831 adultos incluídos no estudo, 8% tinham pólipos avançados ou câncer colorretal. Entre os 5.281 pacientes com recomendações disponíveis, 86,9% foram aconselhados a retornar para uma colonoscopia futura. Surpreendentemente, 58,1% dos idosos com expectativa de vida inferior a 5 anos também foram recomendados para retornar para colonoscopia de vigilância futura.
O estudo concluiu que muitos idosos com expectativa de vida limitada ainda são recomendados para colonoscopia de vigilância futura. Esses dados podem ajudar a refinar a tomada de decisão sobre a realização ou a interrupção da colonoscopia de vigilância em idosos com histórico de pólipos.
Artigo: Association of Life Expectancy With Surveillance Colonoscopy Findings and Follow-up Recommendations in Older Adults – JAMA Internal Medicine (link para o resumo – $ para o texto completo) (link para o Google Tradutor)
Página do paciente JAMA: What Should I Know About Stopping Routine Cancer Screening? (link para o Google Tradutor)
Comentário no Twitter
Findings suggest that recommending against future surveillance colonoscopy in older adults with low-risk colonoscopy findings and/or limited life expectancy should be considered more frequently than is currently practiced. https://t.co/7jKpYyuZON
— JAMA Internal Medicine (@JAMAInternalMed) March 13, 2023
RCT | A sobrevida livre de recidiva em 5 anos é comparável entre gastrectomia distal laparoscópica vs. aberta em câncer gástrico avançado
22 Mar, 2023 | 11:36hResumo: O ensaio clínico randomizado JLSSG0901 teve como objetivo comparar os resultados de sobrevida em 5 anos da gastrectomia distal assistida por laparoscopia (GDAL) e da gastrectomia distal aberta (GDA) com dissecção de linfonodos D2 para câncer gástrico localmente avançado.
O estudo envolveu 507 pacientes de 37 institutos no Japão. O desfecho primário foi a sobrevida livre de recidiva em 5 anos. Os resultados mostraram que as taxas de sobrevida livre de recidiva em 5 anos foram de 73,9% e 75,7% para os grupos GDA e GDAL, respectivamente, confirmando a não inferioridade da GDAL, e não foram observadas diferenças significativas nas complicações pós-operatórias graves entre os dois grupos.
O estudo concluiu que a GDAL com dissecção de linfonodos D2, quando realizada por cirurgiões qualificados, mostrou-se não inferior à GDA e pode se tornar um tratamento padrão para câncer gástrico localmente avançado.
Artigo: Five-Year Survival Outcomes of Laparoscopy-Assisted vs Open Distal Gastrectomy for Advanced Gastric Cancer: The JLSSG0901 Randomized Clinical Trial – JAMA Surgery (link para o resumo – $ para o texto completo) (link para o Google Tradutor)
Conteúdos relacionados:
Comentário no Twitter
https://twitter.com/JAMASurgery/status/1636034546842968067
RCT | Ibuprofeno IV intermitente reduz o consumo de morfina e proporciona alívio da dor pós-operatória
20 Mar, 2023 | 11:47hResumo: O artigo descreve um ensaio clínico randomizado, controlado por placebo, duplo-cego para avaliar a eficácia e a segurança de diferentes doses de ibuprofeno intravenoso (IBIV) no tratamento da dor aguda pós-operatória. O estudo envolveu pacientes submetidos a cirurgia abdominal ou ortopédica e randomizados para placebo, IBIV 400 mg ou IBIV 800 mg. A primeira dose foi administrada por via intravenosa 30 minutos antes do fim da cirurgia, seguida de administração intravenosa a cada 6 horas, num total de 8 doses.
Foi observado que a administração intravenosa de ibuprofeno 400 mg ou 800 mg reduziu significativamente o consumo de morfina e aliviou a dor sem aumentar a incidência de eventos adversos.
Os pontos fortes do estudo incluem o seu desenho multicêntrico, randomizado, controlado e prospectivo. No entanto, a extensa lista de critérios de exclusão sugere que o estudo foi realizado em uma população relativamente saudável, o que dificulta a extrapolação dos resultados de segurança para pacientes mais frágeis. Vale ressaltar também que, no Brasil, diferentemente de muitos países, temos à disposição a dipirona intravenosa, que costuma ser ter boa eficácia e baixa taxa de eventos adversos na prática.
Artigo: Analgesic Efficacy of Intravenous Ibuprofen in the Treatment of Postoperative Acute Pain: A Phase III Multicenter Randomized Placebo-Controlled, Double-Blind Clinical Trial – Pain Research and Management (link para o Google Tradutor)
Estudo de coorte | Biópsia endoscópica com mucosa normal está associada a risco elevado de doença inflamatória intestinal por pelo menos 30 anos
8 Mar, 2023 | 13:51hResumo:
Este estudo explorou o risco de longo prazo de doença inflamatória intestinal (DII) após uma biópsia endoscópica com mucosa normal. Os pesquisadores identificaram indivíduos na Suécia com biópsia gastrintestinal (GI) inferior ou superior mostrando mucosa normal, suas referências populacionais correspondentes e irmãos não expostos.
Eles observaram que indivíduos com uma biópsia GI anterior com mucosa normal tinham risco persistentemente maior de DII em geral, colite ulcerativa e doença de Crohn em comparação com suas referências populacionais correspondentes e irmãos não expostos, e o aumento do risco persistiu por pelo menos 30 anos após a biópsia com achados normais.
Os achados sugerem um período sintomático substancial antes do diagnóstico de DII, e os clínicos devem estar cientes do risco aumentado de DII em longo prazo em pessoas com sintomas que foram suficientes para exigir investigação do trato GI, mas que tiveram achados histologicamente normais na mucosa.
Artigo: Long-term risk of inflammatory bowel disease after endoscopic biopsy with normal mucosa: A population-based, sibling-controlled cohort study in Sweden – PLOS Medicine (link para o Google Tradutor)
Comentário: Risk for IBD Remains High After Endoscopic Biopsy With Normal Mucosa – HealthDay (link para o Google Tradutor)