Arquivos do dia: Dezembro 19, 2024
Meta-Análise: Terapia Endovascular em Oclusão Vertebrobasilar Aguda Melhora os Desfechos Funcionais
19 Dez, 2024 | 19:53hContexto: A oclusão da artéria vertebrobasilar (OVB) está associada a altas taxas de morbidade e mortalidade. Ensaios clínicos prévios sobre terapia endovascular para OVB apresentaram resultados inconsistentes, dificultando a definição de seu papel clínico. Com a disponibilidade de novos dados de ensaios recentes, surgiu a oportunidade de avaliar a eficácia e a segurança da terapia endovascular, bem como identificar subgrupos específicos que possam se beneficiar de modo mais consistente.
Objetivo: Avaliar a eficácia e a segurança da terapia endovascular na OVB aguda, comparando-a ao tratamento médico padrão, e explorar possíveis modificadores de efeito pré-especificados, como gravidade inicial do AVC, características de imagem e etiologia do evento.
Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise de dados individuais de pacientes provenientes de quatro ensaios clínicos randomizados (ATTENTION, BAOCHE, BASICS e BEST), publicados entre janeiro de 2010 e setembro de 2023. Incluíram-se pacientes com AVC isquêmico na circulação vertebrobasilar randomizados para terapia endovascular ou tratamento médico padrão. O desfecho primário foi estado funcional favorável em 90 dias (escala de Rankin modificada [mRS] 0–3), enquanto os desfechos secundários incluíram independência funcional (mRS 0–2), distribuição global da mRS (análise de shift), hemorragia intracraniana sintomática (HICs) e mortalidade em 90 dias. Ajustes estatísticos foram realizados para fatores de confusão, e análises de subgrupos investigaram heterogeneidade do efeito do tratamento.
Resultados: Foram incluídos 988 pacientes (556 no grupo endovascular e 432 no grupo controle), idade mediana de 67 anos. A terapia endovascular aumentou significativamente a proporção de pacientes com mRS 0–3 (45% vs 30%; OR ajustada [ORa] 2,41; IC95% 1,78–3,26) e mRS 0–2 (35% vs 21%; ORa 2,52; IC95% 1,82–3,48), reduziu o grau global de incapacidade (OR comum ajustada [cOR] 2,09; IC95% 1,61–2,71) e a mortalidade em 90 dias (36% vs 45%; ORa 0,60; IC95% 0,45–0,80). Apesar do maior risco de HICs (5% vs <1%; ORa 11,98; IC95% 2,82–50,81), o benefício funcional e de redução da mortalidade persistiu. A análise de subgrupos indicou benefício consistente na maioria das estratificações, exceto incerteza em pacientes com AVC de baixa gravidade (NIHSS <10). O tratamento mostrou eficácia em pacientes com e sem doença aterosclerótica intracraniana, bem como naqueles tratados dentro de 12 horas do início estimado do AVC.
Conclusões: A terapia endovascular na OVB aguda associa-se a melhora funcional significativa, redução da incapacidade global e da mortalidade, apesar do aumento no risco de HICs. O benefício foi robusto em variados perfis de pacientes, embora permaneça incerto em casos com sintomas muito leves ou grandes áreas de infarto na imagem inicial.
Implicações para a Prática: Os achados apoiam a consideração rotineira da terapia endovascular em pacientes com OVB aguda de moderada a alta gravidade. Embora exista aumento no risco de complicações hemorrágicas, o ganho global em desfecho funcional e sobrevida é substancial. A seleção criteriosa dos pacientes, particularmente quanto à gravidade inicial e extensão do infarto, é fundamental.
Pontos Fortes e Limitações do Estudo: Pontos fortes incluem a análise individual de dados de todos os principais ensaios, permitindo análise detalhada de subgrupos. Limitações envolvem possíveis vieses devido à terminação precoce de alguns estudos, exclusão de pacientes com infartos extensos ou sintomas muito leves, predominância de participantes de origem asiática (questionando a generalização) e baixa proporção de mulheres.
Pesquisas Futuras: São necessários novos ensaios para esclarecer o papel da terapia endovascular em pacientes com OVB leve, oclusão vertebral isolada, além de casos além de 24 horas do início e com grandes áreas de infarto. Pesquisas futuras também devem avaliar sua eficácia em populações mais diversas e no contexto prático do dia a dia clínico.
Diretriz: Doxiciclina como Profilaxia Pós-Exposição para Prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis Bacterianas
19 Dez, 2024 | 19:30hIntrodução: Este é um resumo de uma diretriz que aborda o uso da doxiciclina como profilaxia pós-exposição (doxyPEP) para prevenir infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) bacterianas, particularmente sífilis, gonorreia e clamídia, em homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres transgênero com histórico de IST no último ano. A recomendação baseia-se em dados de ensaios clínicos randomizados, visando reduzir a reincidência de ISTs e suas complicações associadas.
Principais Recomendações:
- Aconselhar HSH e mulheres transgênero com pelo menos uma IST bacteriana (sífilis, gonorreia ou clamídia) nos últimos 12 meses sobre os benefícios, riscos e incertezas do uso da doxyPEP.
- Orientar esses indivíduos a tomar 200 mg de doxiciclina o mais breve possível, idealmente dentro de 72 horas após exposição sexual (oral, vaginal ou anal) desprotegida, para reduzir a probabilidade de infecção subsequente.
- Reforçar a necessidade de triagem regular de ISTs (a cada 3 a 6 meses), incluindo testes sorológicos para sífilis e HIV, bem como testes de amplificação de ácido nucleico para gonorreia e clamídia nos sítios de exposição.
- Incorporar serviços abrangentes de saúde sexual, como estratégias de redução de danos, uso de preservativos, vacinações recomendadas e vínculo com profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) ou cuidados para pessoas vivendo com HIV, quando apropriado, junto à doxyPEP para otimizar os resultados preventivos.
- Considerar a extensão da doxyPEP a outras populações de alto risco, incluindo pessoas heterossexuais com ISTs recorrentes, com base no julgamento clínico e na tomada de decisão compartilhada.
- Monitorar efeitos adversos, em especial efeitos gastrointestinais, e abordar preocupações quanto à resistência antimicrobiana, mantendo vigilância quanto à possibilidade de resistência da Neisseria gonorrhoeae e outras bactérias.
- Avaliar fatores sociais e éticos, garantindo acesso equitativo à doxyPEP e minimizando potenciais danos, como estigma ou violência interpessoal.
Conclusão: A implementação da doxyPEP em populações de alto risco representa um avanço importante na prevenção de ISTs bacterianas. Ao integrar o uso profilático da doxiciclina em programas de saúde sexual abrangentes, os profissionais podem reduzir a incidência de infecções e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, considerando cuidadosamente questões de resistência antimicrobiana, equidade de acesso e impactos sociais. Pesquisas futuras devem incluir mulheres cisgênero, homens transgênero, pessoas não binárias e outros grupos sob risco, bem como avaliar o impacto de longo prazo na resistência bacteriana.
Revisão: Novos e emergentes tratamentos para o transtorno depressivo maior
19 Dez, 2024 | 19:19hIntrodução: Este resumo apresenta uma revisão sobre novas e emergentes opções terapêuticas para o transtorno depressivo maior (TDM), uma condição de alta prevalência e impacto socioeconômico significativo. Embora os antidepressivos que atuam nos sistemas monoaminérgicos sejam amplamente utilizados, muitos pacientes não respondem adequadamente, resultando em depressão resistente ao tratamento. Dessa forma, novas abordagens têm sido investigadas, incluindo psicodélicos (psilocibina, cetamina/esquetamina), agentes anti-inflamatórios, moduladores opioides, neuropeptídeos, onabotulinumtoxina A, bem como terapias de neuromodulação (variações da estimulação magnética transcraniana, terapias baseadas em luz). A revisão considera eficácia, tolerabilidade, limitações metodológicas e aplicabilidade clínica dessas intervenções inovadoras.
Principais Recomendações:
- Cetamina e esquetamina: Considerar essas substâncias como tratamento adjuvante para depressão resistente, devido ao início rápido de ação antidepressiva e efeito anti-suicida. Monitorar pressão arterial e risco de habituação. A relação custo-efetividade e a eficácia prolongada permanecem incertas.
- Psicodélicos (psilocibina, ayahuasca): A psilocibina, quando administrada com suporte psicoterapêutico, pode proporcionar redução rápida dos sintomas, mas há preocupações quanto à escalabilidade, necessidade de tempo intensivo de terapeutas e possível aumento de ideação suicida. A ayahuasca apresenta resultados promissores, porém faltam dados robustos de longo prazo e protocolos padronizados.
- Neuromodulação (rTMS, theta burst, TMS acelerada, terapias de luz): A estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS) e suas modalidades aceleradas ou de curta duração (theta burst) demonstram eficácia modesta com boa tolerabilidade. A terapia com luz pode potencializar a neuromodulação. Não há consenso sobre protocolos ideais nem posicionamento claro dessas intervenções na linha de tratamento.
- Agentes anti-inflamatórios e outros fármacos adjuvantes: Evidências preliminares sugerem que minociclina, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), estatinas, ácidos graxos ômega-3 e a combinação buprenorfina-samidorfano podem ter papel auxiliar. Contudo, faltam ensaios robustos que confirmem eficácia e segurança a longo prazo.
- Onabotulinumtoxina A: Uma única injeção na região glabelar pode melhorar sintomas depressivos, mas o mecanismo e a durabilidade do efeito são incertos. Desafios metodológicos dificultam recomendações definitivas.
- Estimulação cerebral profunda (DBS) e terapia convulsiva magnética (MST): Procedimentos invasivos e com evidências limitadas, indicados apenas em casos extremamente refratários. Seu uso permanece experimental.
Conclusão: Os tratamentos emergentes para o TDM oferecem novas perspectivas além dos antidepressivos convencionais, potencialmente abordando a heterogeneidade da doença. No entanto, a maioria das intervenções ainda é considerada experimental, carecendo de comparações diretas com terapias estabelecidas, maior definição de protocolos e dados de longo prazo. Mais pesquisas rigorosas são necessárias para esclarecer o papel dessas estratégias na prática clínica e otimizar o cuidado ao paciente com depressão resistente.
Revisão: Manejo Não Cirúrgico da Insuficiência Venosa Crônica
19 Dez, 2024 | 13:47hIntrodução: Este é um resumo de uma revisão sobre o manejo não cirúrgico da insuficiência venosa crônica, uma condição comum caracterizada por hipertensão venosa persistente, levando a sintomas como edema, varizes, alterações cutâneas e úlceras venosas. O foco principal é abordar fatores estruturais e funcionais que contribuem para a doença, considerando intervenções clínicas e comportamentais que podem melhorar a qualidade de vida e reduzir a progressão dos sintomas.
Principais Recomendações:
- Abordagem Multifatorial: Avaliar e manejar tanto causas estruturais (por exemplo, refluxo venoso segmentar) quanto funcionais (obesidade, fraqueza muscular, hipertensão venosa central).
- Terapia Compressiva: Recomendar o uso de meias de compressão graduada ou bandagens, ajustando o nível de compressão (geralmente entre 20-30 mm Hg ou maior) conforme tolerância e necessidade, visando reduzir edema e melhorar sintomas.
- Redução da Pressão Venosa Central: Incentivar a perda de peso em pacientes obesos, avaliar e manejar fatores como apneia obstrutiva do sono e disfunção diastólica cardíaca, evitando o uso excessivo de diuréticos.
- Exercícios e Elevação de Pernas: Orientar exercícios específicos para fortalecimento da musculatura da panturrilha e do pé, bem como a elevação frequente das pernas, a fim de melhorar o retorno venoso.
- Avaliação de Medicamentos Indutores de Edema: Realizar reconciliação medicamentosa, considerando que fármacos como bloqueadores de canal de cálcio e gabapentinoides podem contribuir para o edema.
- Intervenções Estruturais Seletivas: Em casos com refluxo venoso significativo associado a sintomas, considerar procedimentos endovenosos ou cirúrgicos como ablações, escleroterapia ou flebectomia, especialmente em presença de úlceras venosas não cicatrizantes.
Conclusão: O manejo não cirúrgico da insuficiência venosa crônica envolve intervenções clínicas, comportamentais e compressivas, buscando reduzir a hipertensão venosa e melhorar o retorno venoso. Abordar tanto aspectos estruturais quanto funcionais é essencial para otimizar sintomas, promover cicatrização de úlceras e melhorar a qualidade de vida do paciente.