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Uso de Telemedicina em Clínicas de Atenção Primária e Relação com Serviços de Baixo Valor em Idosos no Medicare

3 Jan, 2025 | 09:30h

Este estudo observacional, conduzido com dados de beneficiários do Medicare no estado de Michigan (EUA), investigou se a maior adoção de telemedicina por clínicas de atenção primária estaria associada à realização de serviços considerados de baixo valor. A iniciativa partiu da rápida expansão da telemedicina nos últimos anos, gerando incertezas sobre sua repercussão na qualidade do cuidado, especialmente sobre a possibilidade de estimular procedimentos desnecessários.

O objetivo principal foi verificar a variação na frequência de oito serviços de baixo valor, distribuídos em quatro categorias (serviços de consultório, laboratoriais, de imagem e mistos), comparando práticas com diferentes níveis de uso de telemedicina (baixo, médio e alto).

O estudo adotou desenho retrospectivo de coorte, analisando dados de 577 928 beneficiários do Medicare ao longo do período de 2019 a 2022. Foram realizadas comparações entre os anos pré-pandemia (2019) e pós-pandemia (2022), ajustando para características das práticas (por exemplo, idade e perfil clínico dos beneficiários, localização em área rural ou urbana).

Os resultados indicaram que o uso elevado de telemedicina se associou a menores taxas de alguns serviços de baixo valor realizados no próprio consultório: houve redução de testes de rastreamento de câncer de colo de útero em mulheres acima de 65 anos e menor solicitação de alguns exames de função tireoidiana considerados desnecessários. Para outros exames de laboratório e de imagem, não foram constatadas alterações significativas relacionadas ao uso de telemedicina.

Em conclusão, o maior número de atendimentos virtuais parece não ter levado a um acréscimo nos serviços potencialmente desnecessários. Pelo contrário, houve indícios de que a telemedicina pode reduzir certos procedimentos de baixo valor que exigem presença física. Ainda assim, devem-se manter cautela e monitoramento constantes, pois a telemedicina pode ter impactos diferentes dependendo do tipo de serviço ou do perfil do paciente.

Nas implicações para a prática, recomenda-se que os sistemas de saúde e formuladores de políticas analisem com cautela a implementação da telemedicina, dando atenção especial para evitar a substituição de atendimentos que exijam presença física e para garantir que exames ou intervenções essenciais sejam preservados. A adoção de protocolos clínicos claros, o uso criterioso de exames complementares e o treinamento adequado das equipes podem mitigar riscos de uso inadequado ou excessivo.

Quanto aos pontos fortes, salienta-se o amplo volume de dados e o enfoque em métricas já validadas de baixo valor, o que confere robustez ao trabalho. Porém, limitações incluem a restrição do cenário (Michigan) e a impossibilidade de avaliar todos os serviços de baixo valor ou de investigar resultados clínicos individuais em profundidade.

Para pesquisas futuras, recomenda-se explorar outras populações e incluir serviços farmacológicos considerados de baixo valor, além de acompanhar se a expansão da telemedicina se mantém e como ela afeta, ao mesmo tempo, serviços de alto e baixo valor.

Referência
Liu T, Zhu Z, Thompson MP, et al. Primary Care Practice Telehealth Use and Low-Value Care Services. JAMA Network Open. 2024;7(11):e2445436. DOI: http://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2024.45436

 


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