Meta-análise sugere que Clorpromazina IV/IM está entre as Opções mais Eficazes para Crise de Enxaqueca no Pronto-Socorro
25 Dez, 2024 | 08:27hEste estudo teve como foco avaliar e comparar diversas terapias farmacológicas utilizadas no atendimento de adultos com enxaqueca que chegam ao Departamento de Emergência (DE). A enxaqueca é uma das principais causas de procura ao DE por cefaleia, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Nesse cenário, as opções de tratamento incluem fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), triptanos, agentes neurolépticos, antieméticos, corticosteróides e analgésicos opioides, entre outros. No entanto, ainda há controvérsias sobre qual medicação apresenta melhor eficácia e segurança para alívio rápido da dor e redução da necessidade de medicação de resgate.
O objetivo central deste trabalho foi conduzir uma revisão sistemática e uma meta-análise em rede (network meta-analysis) com abordagem Bayesiana, visando determinar a eficácia relativa e a segurança de diferentes agentes farmacológicos para crise aguda de enxaqueca em adultos que procuram o DE.
Os métodos incluíram a busca em bases como MEDLINE, Embase e Web of Science desde o início de seus registros até fevereiro de 2024, selecionando ensaios clínicos randomizados que compararam fármacos isolados ou combinações (ou placebo) para tratamento de enxaqueca em adultos. Foram avaliados quatro desfechos principais: (1) alívio adequado da dor em 2 horas, (2) redução na intensidade da dor em 1 hora, (3) necessidade de medicação de resgate em 2 horas e (4) ocorrência de reações adversas significativas.
Como resultados principais, a clorpromazina (IV/IM) despontou como a mais promissora para alívio adequado da dor em 2 horas e também para menor necessidade de resgate. Por outro lado, o ibuprofeno IV e o valproato IV figuraram entre os menos eficazes para dor, enquanto a dexametasona IV mostrou menor probabilidade de eventos adversos significativos. De forma geral, a maioria dos fármacos apresentou evidências de baixa ou muito baixa certeza, o que limita a robustez dos achados.
Implicações para a Prática
Os achados, embora limitados pela heterogeneidade e pela baixa certeza de evidências, podem ajudar os profissionais de emergência na seleção das medicações mais promissoras para enxaqueca aguda. A clorpromazina IV/IM surge como uma alternativa a ser considerada, mas efeitos adversos, principalmente hipotensão e sedação, devem ser monitorados. Dexametasona IV pode representar uma opção com perfil de segurança mais favorável, mas, novamente, há incerteza nos dados. A decisão clínica deve equilibrar eficácia, segurança e experiência do médico com cada fármaco, além do perfil de cada paciente.
Pontos Fortes e Limitações
O estudo oferece uma análise abrangente de diferentes medicações para enxaqueca em um único modelo de meta-análise em rede, possibilitando inferências indiretas que não seriam possíveis em meta-análises convencionais. Contudo, há limitações importantes: grande parte dos ensaios incluiu amostras pequenas, houve variação entre critérios de inclusão (por exemplo, intensidade prévia de dor), e muitos fármacos não dispuseram de comparações diretas suficientes para se ter alta confiança nos resultados. Além disso, a definição de “alívio adequado” e a forma de relatar eventos adversos variaram de estudo para estudo.
Pesquisas Futuras
Para confirmar e refinar essas conclusões, são necessários ensaios clínicos randomizados de maior porte e padronização de desfechos, especialmente avaliando vias de administração, doses e combinações de agentes. Seria relevante aprofundar a segurança de fármacos que se destacaram na análise, como a clorpromazina, em comparação com outras estratégias possivelmente eficazes, como combinações de antieméticos e AINEs.
Referência
deSouza IS, Anthony N, Thode H Jr, et al. Effectiveness and Safety of Pharmacologic Therapies for Migraine in the Emergency Department: A Systematic Review and Bayesian Network Meta-analysis. Annals of Emergency Medicine. In Press, Corrected Proof, 2024. DOI: http://doi.org/10.1016/j.annemergmed.2024.11.004