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Meta-Análise Bayesiana Sugere Maior Risco de Mortalidade com Altas Doses de Proteína em Pacientes Críticos

2 Jan, 2025 | 08:30h

Trata-se de uma análise que surgiu do contexto em que diretrizes de nutrição recomendam administrações proteicas elevadas (1,2 g/kg/d a 2,0 g/kg/d) para pacientes em estado crítico, com a justificativa de minimizar a perda muscular e melhorar desfechos clínicos. No entanto, pesquisas recentes questionam o real benefício dessa estratégia, motivando a condução de uma revisão sistemática e meta-análise sob a ótica bayesiana. O objetivo central foi responder se uma maior oferta de proteína, quando comparada a uma oferta menor, influencia a mortalidade, infecções, tempo de ventilação mecânica e qualidade de vida de pacientes graves internados em UTI.

Para alcançar esse objetivo, os autores incluíram ensaios clínicos randomizados que compararam doses diferentes de proteína, mantendo semelhante o aporte energético em ambos os grupos. Foram analisados 22 estudos, totalizando 4.164 pacientes. A estratégia de análise foi a aplicação de modelos bayesianos hierárquicos, escolhidos por permitirem estimar probabilidades de efeitos benéficos ou prejudiciais em diversos limiares clínicos. No geral, a dose de proteína no grupo “alto aporte” foi de cerca de 1,5 g/kg/d, enquanto a do grupo “baixo aporte” foi de 0,9 g/kg/d.

Entre os resultados, destacou-se a probabilidade de 56,4% de que o maior aporte proteico aumente a mortalidade, enquanto a chance de redução da mortalidade não pôde ser completamente descartada, mas se mostrou menos provável (43,6%). De forma semelhante, observou-se indicativo de maior probabilidade de infecções no grupo que recebia proteínas mais elevadas, apesar de não ter havido efeitos clinicamente relevantes sobre duração da ventilação mecânica. Em relação à qualidade de vida, poucos estudos relataram esse desfecho; ainda assim, a análise sugere que uma oferta proteica alta pode exercer um impacto negativo, embora essa conclusão mereça cautela.

Conclui-se que, apesar de diretrizes históricas encorajarem a oferta proteica mais elevada, a presente meta-análise bayesiana aponta maior probabilidade de dano associado a essa prática e uma baixa chance de benefício clínico substancial. Como implicações para a prática, os achados reforçam a necessidade de individualizar a prescrição nutricional em pacientes críticos, evitando a suposição de que mais proteína seja sempre melhor. Ainda que sejam resultados relevantes, há pontos fortes e limitações a considerar. Entre os pontos fortes, inclui-se o uso de metodologia rigorosa, abrangendo estudos multicêntricos recentes e análise bayesiana, que estima probabilidades de benefício e de dano de forma mais flexível que análises frequentistas convencionais. Já as limitações incluem a heterogeneidade das doses proteicas e das definições de infecção, além de viés de publicação sugerido na análise de mortalidade. É necessário prudência antes de generalizar os resultados a todos os perfis de pacientes críticos, pois subgrupos específicos podem se beneficiar ou ser prejudicados em graus diferentes pela oferta proteica.

Para pesquisas futuras, recomenda-se a realização de ensaios clínicos multicêntricos adicionais que avaliem protocolos de dosagem proteica focados em subgrupos específicos (por exemplo, pacientes com insuficiência renal ou com maior gravidade clínica) e que explorem mecanismos fisiológicos subjacentes aos possíveis efeitos adversos da suplementação proteica elevada.

Referência:
Heuts S, Lee ZY, Lew CCH, et al. Higher Versus Lower Protein Delivery in Critically Ill Patients: A Systematic Review and Bayesian Meta-Analysis. Critical Care Medicine. Publicado em 27 de dezembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1097/CCM.0000000000006562

 


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