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Estudo Randomizado: Interrupção de Terapia Modificadora da Doença em Esclerose Múltipla Estável Está Associada a Recorrência de Atividade Inflamatória

3 Jan, 2025 | 08:30h

Este estudo multicêntrico, randomizado e com avaliadores mascarados (DOT-MS) investigou se a interrupção de terapias modificadoras da doença (TMD) de primeira linha em pacientes com esclerose múltipla (EM) estáveis há mais de 5 anos seria segura. A motivação decorre do uso prolongado de TMD, com custos, possíveis efeitos adversos e a possibilidade de alguns pacientes não precisarem de medicação contínua após longo período de estabilidade clínica e radiológica.

O objetivo principal foi comparar a ocorrência de atividade inflamatória significativa (surtos clínicos ou múltiplas novas lesões em ressonância magnética do encéfalo) em pacientes que interromperam a TMD em comparação àqueles que a continuaram.

O estudo incluiu adultos (≥18 anos) com EM recorrente-remitente ou secundariamente progressiva, sem surtos clínicos e sem atividade expressiva em ressonância magnética (apenas até uma nova lesão T2 em pelo menos 5 anos, ou até três novas lesões em 10 anos) enquanto recebiam TMD de primeira linha. Os participantes foram randomizados (1:1) para continuar ou descontinuar a TMD e foram acompanhados por exames clínicos e de imagem com contraste nos meses 3, 6, 12, 18 e 24.

Os resultados mostraram que o estudo foi interrompido precocemente devido à constatação de que 17,8% dos pacientes no grupo de descontinuação apresentaram recorrência de atividade inflamatória significativa, contra 0% no grupo que manteve o tratamento. O tempo mediano até a atividade de doença foi de 12 meses, sendo que a maioria dos episódios foi detectada radiologicamente, com poucos surtos clínicos. Embora muitos pacientes sem evidências de reativação tenham se mantido estáveis após interromper a TMD, o risco de recorrência foi considerável, sobretudo entre os mais jovens. Os testes laboratoriais mostraram elevação de níveis de neurofilamento de cadeia leve (NfL) em participantes que apresentaram atividade inflamatória, mas não foi possível prever quais indivíduos teriam reativação unicamente por esses biomarcadores.

Conclui-se que a interrupção da TMD pode levar a reaparecimento de inflamação em aproximadamente 20% dos casos, mesmo em pacientes estáveis por mais de 5 anos. É fundamental o monitoramento estreito (clínico e radiológico) dos indivíduos que optarem por descontinuar a terapia, com possibilidade de retorno imediato à medicação em caso de reativação da doença.

Na prática, esses achados ressaltam que a suspensão de TMD em adultos com EM pode ser considerada de forma individualizada, principalmente em faixas etárias mais avançadas e após longos períodos de estabilidade. Contudo, deve-se manter vigilância para identificar possíveis recidivas precoces.

Quanto aos pontos fortes, trata-se de um ensaio clínico randomizado com monitoramento frequente de ressonância magnética e dados de biomarcadores séricos, trazendo alta qualidade de evidência para a decisão de descontinuação de TMD em esclerose múltipla. Como limitações, o estudo foi interrompido antes de atingir o tamanho amostral completo, restringindo análises de subgrupos e imposibilitando testar formalmente a não inferioridade da descontinuação; também não foram realizadas rotineiramente imagens de medula espinhal.

Para pesquisas futuras, será importante avaliar desfechos de mais longo prazo, incluindo incapacidade acumulada, além de possíveis perfis clínico-biomarcadores que predisponham maior risco de recorrência. Um seguimento observacional em curso acompanhará a evolução dos participantes, mesmo após o reinício do tratamento em alguns casos.

Referência:
Coerver EME, et al. Discontinuation of First-Line Disease-Modifying Therapy in Patients With Stable Multiple Sclerosis: The DOT-MS Randomized Clinical Trial. JAMA Neurology. Publicado em 9 de dezembro de 2024. DOI: http://doi.org/10.1001/jamaneurol.2024.4164

 


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