Arquivos do dia: Dezembro 18, 2024
Manejo da Fibrilação Atrial: Evidências Atuais e Recomendações
18 Dez, 2024 | 11:09hIntrodução: A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais comum, associada a aumento no risco de acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca (IC), deterioração cognitiva e mortalidade. Este resumo apresenta um guia de revisão sobre prevenção, detecção, estratificação de risco e manejo da FA, incluindo o controle da frequência, restauração e manutenção do ritmo sinusal, bem como estratégias de anticoagulação para reduzir eventos tromboembólicos.
Principais Recomendações:
- Modificação de Fatores de Risco e Estilo de Vida: Recomenda-se perda de peso, exercício regular, cessação do tabagismo, redução do consumo de álcool e controle rigoroso da pressão arterial, em todos os estágios da FA, para prevenir surgimento, recorrência e complicações.
- Triagem e Diagnóstico: Em pacientes com fatores de risco ou AVC de origem indeterminada, considerar métodos de monitoramento contínuo (como registradores implantáveis) para detecção de FA assintomática. Confirmar o diagnóstico com ECG.
- Prevenção de AVC: Avaliar o risco de AVC e tromboembolismo com escores validados (por exemplo, CHA2DS2-VASc). Para risco anual ≥2%, indicar anticoagulação oral (preferencialmente anticoagulantes diretos como apixabana ou rivaroxabana) para reduzir o risco de AVC em até 80%. A aspirina isolada não é recomendada.
- Controle Precoce do Ritmo: Em pacientes com FA sintomática ou com IC e fração de ejeção reduzida (ICFER), o controle precoce do ritmo (medicações antiarrítmicas ou ablação por cateter) pode melhorar sintomas, função cardíaca, qualidade de vida e reduzir hospitalizações.
- Ablação por Cateter: Considerar ablação como terapia de primeira linha na FA paroxística sintomática para manter ritmo sinusal e retardar a progressão da doença. Nos pacientes com FA e ICFER, a ablação melhora a função ventricular, reduz a mortalidade e as internações por IC.
- Controle da Frequência: Em casos em que o controle do ritmo não é viável ou benéfico, o controle da frequência com betabloqueadores ou bloqueadores do canal de cálcio não diidropiridínicos é indicado. Em situações refratárias, a ablação do nó AV com implante de marcapasso pode ser considerada.
- Estadiamento da FA e Manejo a Longo Prazo: Reconhecer os diferentes estágios da FA (risco, pré-FA, FA paroxística/persistente/ablacionada, permanente) para direcionar intervenções personalizadas. Após ablação, manter anticoagulação por pelo menos 3 meses e reavaliar o risco de AVC.
- Equidade no Acesso ao Tratamento: Garantir o acesso igualitário a terapias baseadas em diretrizes, incluindo ablação, manejo de fatores de risco e tratamento especializado em populações diversas.
Conclusão: O manejo adequado da FA, com modificação de fatores de risco, uso apropriado de anticoagulantes e controle precoce do ritmo, pode melhorar substancialmente os desfechos, reduzindo AVC, internações por IC e mortalidade. A ablação por cateter desempenha um papel fundamental para determinados pacientes, sobretudo aqueles com FA paroxística sintomática ou ICFER, enquanto a oferta equitativa de cuidados permanece essencial.
Revisão: Manejo e Abordagem do DRESS (Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms)
18 Dez, 2024 | 10:55hIntrodução: O DRESS (Reação a Medicamento com Eosinofilia e Sintomas Sistêmicos) é uma reação cutânea adversa grave, mediada por células T, caracterizada por erupção cutânea extensa, febre, envolvimento de órgãos internos e eosinofilia, após exposição prolongada a um fármaco. Conhecido também como síndrome de hipersensibilidade induzida por fármacos, o DRESS frequentemente está associado a anticonvulsivantes aromáticos, alopurinol e antibióticos, entre outros. Embora raro, é uma das reações cutâneas graves mais comuns em pacientes hospitalizados, com significativa morbimortalidade, podendo levar a óbito em até 5% dos casos. O diagnóstico baseia-se em critérios clínicos, laboratoriais e na exclusão de diagnósticos diferenciais, incluindo outras reações cutâneas adversas graves, como Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ), necrólise epidérmica tóxica (NET) e pustulose exantemática aguda generalizada (PEAG). Além disso, o DRESS cursa frequentemente com reativação viral (HHV-6, EBV, CMV) e pode resultar em sequelas a longo prazo, inclusive autoimunes.
Principais Recomendações:
- Remoção do fármaco implicado: Identificar e suspender prontamente o medicamento suspeito é a medida mais crucial.
- Suporte clínico e monitoramento multidisciplinar: Avaliação e acompanhamento contínuo da função hepática, renal, pulmonar, cardíaca e outros órgãos potencialmente envolvidos. Internação e monitoramento em unidade de terapia intensiva podem ser necessários em casos graves.
- Terapia com glicocorticoides sistêmicos: Utilizar prednisona ou equivalente (0,5-1 mg/kg/dia), com redução gradual após estabilização. Pulsoterapia pode ser considerada em casos refratários.
- Tratamentos poupadores de glicocorticoide: Em situações de risco para infecção ou complicações dos esteroides, considerar imunossupressores adicionais (ciclosporina, micofenolato) ou terapias biológicas (anti-IL-5, inibidores de JAK) em casos selecionados.
- Considerar testes diagnósticos específicos: Embora não exista teste diagnóstico validado, biópsia cutânea pode auxiliar na exclusão de outras condições. Testes de contato, intradérmicos e exames para HLA podem orientar suspeitas de drogas específicas.
- Acompanhamento a longo prazo: Monitorar pacientes após resolução do quadro, considerando a possibilidade de recaídas, reativações virais e desenvolvimento de doenças autoimunes. Suporte psicológico e monitoramento de complicações orgânicas a longo prazo são recomendados.
Conclusão: O DRESS é uma reação grave e multifacetada, que exige identificação precoce do fármaco causador, tratamento com glicocorticoides e, quando necessário, outras terapias imunomoduladoras. O acompanhamento prolongado é essencial devido aos riscos de recaídas, sequelas orgânicas e desenvolvimento de doenças autoimunes. A colaboração entre dermatologistas, alergistas, imunologistas e outros especialistas é fundamental para uma abordagem eficaz e personalizada.