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Manejo e Recomendações para Crises Hiperglicêmicas em Adultos com Diabetes

15 Dez, 2024 | 10:16h

Introdução: As crises hiperglicêmicas – incluindo a cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) – são complicações agudas graves do diabetes tipo 1 e tipo 2, associadas a risco aumentado de morbidade e mortalidade. Nos últimos anos, observou-se um aumento global nas taxas de CAD e EHH, impulsionado por fatores como má adesão terapêutica, infecções, condições socioeconômicas adversas, uso de certos medicamentos (como inibidores de SGLT2) e fatores psicossociais. Este consenso, fruto da colaboração entre ADA, EASD, JBDS, AACE e DTS, atualiza as recomendações sobre epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e prevenção da CAD e do EHH em adultos, fornecendo orientações para melhorar o cuidado clínico e os desfechos dos pacientes.

Recomendações Principais:

  1. Diagnóstico e Classificação:
    • CAD: Diagnóstico baseado em hiperglicemia (>11,1 mmol/l ou 200 mg/dl, ou histórico prévio de diabetes), cetonemia elevada (β-hidroxibutirato ≥3,0 mmol/l) e acidose metabólica (pH <7,3 ou bicarbonato <18 mmol/l).
    • EHH: Definido por hiperglicemia grave (frequentemente >33,3 mmol/l ou 600 mg/dl), hiperosmolalidade (>320 mOsm/kg), desidratação significativa e ausência de cetose importante.
    • CAD pode ser classificada em leve, moderada ou grave conforme alterações ácido-base e estado mental.
    • Atenção a casos de CAD euglicêmica, especialmente em pacientes em uso de inibidores de SGLT2.
  2. Terapia com Fluidos e Eletrólitos:
    • Iniciar reposição com solução cristalóide isotônica para restabelecer o volume intravascular, corrigir a perfusão tecidual e reduzir a hiperglicemia.
    • Após estabilização, ajustar fluidos considerando estado hemodinâmico, sódio sérico e glicemia.
    • Incluir dextrose quando a glicose plasmática cair abaixo de ~13,9 mmol/l (250 mg/dl) para permitir continuidade da insulina e correção completa da acidose cetônica.
    • Monitorar e corrigir potássio para prevenir hipocalemia potencialmente fatal.
  3. Terapia com Insulina:
    • Iniciar insulina intravenosa de ação rápida (taxa fixa ou protocolos ajustáveis) tão logo seja viável, após assegurar níveis adequados de potássio.
    • No CAD leve a moderada, o uso de insulina subcutânea de ação rápida em ambiente adequado é uma opção.
    • Manter insulina até a resolução da CAD (pH ≥7,3, bicarbonato ≥18 mmol/l, β-hidroxibutirato <0,6 mmol/l) ou do EHH (osmolaridade <300 mOsm/kg, melhora do estado mental).
    • Transição cuidadosa da insulina intravenosa para subcutânea, garantindo sobreposição de 1-2 horas para evitar recorrência da hiperglicemia.
  4. Outros Aspectos Terapêuticos:
    • Bicarbonato: Evitar uso rotineiro; considerar apenas se pH <7,0.
    • Fosfato: Corrigir apenas se valores muito baixos (<1,0 mmol/l) e associado a fraqueza muscular significativa.
    • Avaliar e tratar causas precipitantes (infecções, omissão de insulina, medicamentos, estresse fisiológico).
    • Considerar aspectos psicossociais, depressão, distúrbios alimentares e determinantes sociais da saúde, que aumentam o risco de crises recorrentes.

Conclusão: A aplicação sistemática das recomendações, incluindo diagnóstico precoce, manejo intensivo de fluidos, insulina e eletrólitos, correção das causas precipitantes e atenção às condições socioeconômicas e psicológicas, é fundamental para melhorar o prognóstico. Ao padronizar o cuidado, espera-se redução da morbidade, mortalidade e dos custos relacionados às crises hiperglicêmicas, além de melhora na qualidade de vida dos pacientes.

Referência: Umpierrez GE, Davis GM, ElSayed NA, et al. Hyperglycaemic crises in adults with diabetes: a consensus report. Diabetologia. 2024;67:1455–1479. DOI: https://doi.org/10.1007/s00125-024-06183-8

 


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